Imagem: Arte e Artistas. Disponível em: Arte e https://arteeartistas.com.br/semana-de-arte-moderna-brasil-1922/Artistas – Semana de Arte Moderna – Brasil 1922

por Fabiana Floss

 

           “Aquilo nem foi uma semana!”

            “Uma aglomeração de horrores!”

         “Música extravagante, apresentada por um maestro que zombava das tradições, se expondo ao ridículo, apoiado em um guarda-chuva, calçando um pé de sapato e um de chinelo. AFRONTA!

    As vaias, críticas severas, as farpas trocadas entre os “passadistas” e os “modernistas”, ainda hoje, alimentam o imaginário daqueles que como eu, apreciam ou bebem do néctar da história com verdadeiro regozijo.

      É verdade! Não foi uma semana. Bastaram três dias para quebrar os “vasos”, libertar as métricas, estardalhar as notas, dar às ninfas pinceladas de humanidade e à arte brasileira, os primeiros traços de sua nacionalidade. Era possível ver, ouvir e sentir:

     VER: os retratos de uma nação forjada de tantas nações e desconhecida de seu próprio povo ganhar formas, representação. Não tínhamos heróis de Hybris imaculada, tínhamos o homem, o malandro, o operário, o carnal, não o onírico. A oportunidade de encontrar o alvo, o “objeto” da arte ao seu lado apreciando a obra.

     OUVIR: a música extravagante eclodindo, transcendendo, tocando o âmago dos ouvintes, vasculhado suas almas, revirando suas vísceras, emocionando seus todos nos acordes ecoantes de “As Bachianas Brasileiras”. Aposto minha graduação que muitas das vaias serviram como subterfúgio para extravasar a emoção.

   SENTIR: que já não cabíamos em um modelo de arte padronizado, rígido, submetido a cálculos exatos, éramos e somos tão imprecisos que nossas imprecisões necessitavam de uma representação: na música, na literatura, na poesia, na pintura, na escultura… Essa é a nossa “sublemazia” – supremacia é brutal demais, necessito do sublime que sobressai para construir a expressão assertiva!

     Sim! Trincaram o “vaso”, borraram as telas de suor, lágrimas e gente, romperam as amarras, amotinaram-se em um evento no templo das artes, apenas mais uma afronta.  Eram vanguardistas, mal denominados futuristas, eram metade mitos – construídos de vidas públicas afrontosas, picuinhas intelectuais e bafafás amorosos – e metade humanos e isso deu-lhes o dom da imortalidade. Os “quadrinhos”, senhor Lobato, são arte no mundo inteiro; “o ciclone literário que vai dar em nada”, senhor Coelho Neto, tempesteiam o universo artístico até hoje! Concretismo e Tropicália são alguns dos seus frutos.

     1922 não foi pensado à toa. Proclamava a independência das artes no Brasil, ou melhor dizendo, sua ressignificação de tudo o que foi implantado pelos colonizadores nessa terra, somados ao primitivo, transformando-se em uma arte nacional. Sendo assim, concluo minhas palavras em contradição, pois devo assumir que “A Semana de Arte Moderna de 22” não foi ruptura, não. Foi descoberta, tanto para os visitantes, quanto para os artistas e organizadores, que viveram boa parte de suas vidas principalmente na Europa. Não há como romper com aquilo que não se conhece. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um resgate de tudo o que éramos antes do suposto início (descobrimento do Brasil) com tudo o que poderíamos nos tornar e representar a partir de então.

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