imagem: @studio.zec   

 

             Os dados do painel Coronavírus Brasil apontam que quase 610 mil vidas foram ceifadas por uma doença para a qual, felizmente, já existe vacina. Sim. Vacina. Não aquele remédio de eficácia não comprovada, mas, lamentavelmente, indicado por algumas autoridades, inclusive da saúde. Da saúde. É inegável que, na luta contra a “gripezinha”, a desinformação vem sendo a maior inimiga da população brasileira: em nove meses de campanha de vacinação, a aplicação está a passos lentos. São, segundo o Consórcio dos Veículos de Imprensa, 72,5% da população vacinada com a primeira dose, enquanto pouco mais de 50% está imunizada com a segunda dose ou dose única.

        A política da negligência que está em vigência no país vem nos afastando do sonho de voltarmos a um “normal”, que, claramente, sabemos, não volta mais. É possível escrever poesia depois da Covid-19?

           Assolando a mente dos mais ignorantes ou desavisados de plantão, as notícias veiculadas sobre a nossa única esperança não contribuem em nada para o combate à pandemia: câncer, chip com capacidade de alterar o DNA, ímãs e até HIV, são os estigmas que as vacinas, erroneamente, carregam. A imunização vem desde o início ameaçada por certo inimigo da ciência e da saúde, que, de forma vil, cruel, desumana, imoral e perversa, é insolente quando trata de vacinas, mas se mostra como pastor na condução de um rebanho a caminho da obscuridade.

            Os cientistas desenvolveram em tempo recorde uma vacina segura – menos de dois anos de pandemia. Registros mostram que a vacina “mais rápida” até então foi a contra o ebola, que levou cerca de quatro anos para ficar pronta. Mas, ao invés de vibrarmos com tal conquista, o que aconteceu foram dúvidas e mais dúvidas sobre a eficácia e os efeitos dos imunizantes no corpo. Além disso ainda passamos a conhecer os “sommeliers” que indicavam a preferência na hora de se vacinarem.

           Mesmo com várias pesquisas mostrando o quanto a vacina tem feito seu papel, milhares de pessoas se recusam a se vacinar acreditando que essa atitude não afeta a coletividade, pensamento este totalmente inusitado. Para que a vacina exerça 100% da sua eficácia é preciso que toda a população esteja vacinada com as duas doses, e assim o vírus pare de circular. Não se trata de uma simples tarefa, convencer essas pessoas sobre a verdade. E assim o Brasil segue lento na caminhada para o final da pandemia.

          A ciência, apesar dos esforços empreendidos, sobretudo pelo presidente, contra as políticas de isolamento e vacinação, revela seu potencial de superação dos momentos de crise sanitária. As vacinas, cientificamente desenvolvidas, revelam seus efeitos a partir da redução do contágio e dos óbitos por Covid-19, tornando possíveis a flexibilização do isolamento social e mesmo, quem sabe, a esperança.

           Mas a politização da pandemia não parece se aproximar de um fim. Ao contrário: se renova e se atualiza, dando abertura à replicação viral e ao desenvolvimento de variantes – para as quais talvez as vacinas que temos à disposição não sejam de todo combativas. A solução é clara e claramente apontada pelos cientistas da saúde: tomar ou não tomar vacina não pode se tratar de uma escolha de ordem subjetiva e individual. Vacina exige políticas e campanhas de vacinação universais, coletivas, não de modo a imunizar alguns, mas com o objetivo de reduzir a circulação de um vírus até que tudo fique sob controle. E o controle não está apenas em nossas mãos, nas mãos da população.

         Contra o vírus da ignorância, do oportunismo e da negligência de líderes políticos no combate à pandemia, podemos também recorrer à ciência. Podemos nos apropriar da história, das artes, das ciências sociais e sociais aplicadas. Podemos recorrer às ciências humanas para compreender os caminhos que nos fizeram chegar aonde chegamos e desvendar veredas, saídas, alternativas, possibilidades e potencialidades de cura à desesperança e ao desencanto. Podemos vislumbrar, para além de um novo normal, novos sonhos.

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