imagem: arquivo UEM

 

por Anna Clara Gobbi, Isadora Hamamoto e Jennifer Marinho

 

          A pandemia causada pelo novo coronavírus teve vários efeitos na educação de estudantes e instituições educacionais em mais de 100 países ao redor do mundo. Sabe-se que, até agora, mais de 6,9 milhões de pessoas morreram ao redor do globo em decorrência da propagação do vírus. 

         Diante dos riscos causados pelas aglomerações, tão comuns na educação presencial, as autoridades adotaram medidas bastante rígidas, começando com férias ou suspensão temporária das aulas. Poucos meses depois, a maioria das instituições de ensino permaneceu fechada para evitar a infecção e um aumento nos casos de Covid-19. A tecnologia e o ensino remoto tornaram-se aliados para a continuidade ao ano letivo.

         A pandemia surpreendeu a todos, porém há aqueles que precisaram enfrentar essa guerra na linha de frente e, muitas vezes, sem ter tempo para se preparar para o enfrentamento da pandemia. Este é o contexto dos internos do Hospital Universitário de Maringá (HUM), alunos do quinto e sexto anos do curso de Medicina. É o caso do estudante Henrique Pereira dos Santos, do sexto ano, que atua como interno no HUM e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e assiste de perto à difícil realidade vivida dentro do Hospital.

         Inicialmente sem muitas expectativas sobre o curso, Henrique diz que sua visão não mudou com a chegada da pandemia. A Covid-19 foi somente mais uma patologia adicionada aos seus estudos. Porém, por outro lado, compreendeu a importância de se estudar mais as áreas de urgência e emergência, pois “muitos recém-formados já foram trabalhar na linha de frente, talvez sem todo o preparo, por isso sinto que vou estudar mais a respeito, caso eu decida, ao me formar, dar plantões de urgência e emergência (mas preciso ter segurança disso)”, conta o estudante.

          Apesar do contexto pandêmico e dos consequentes desfalques, Henrique não se sente prejudicado e acredita que o ensino médico se manteve adequado, por mais que tenha passado por certas alterações. Por exemplo, no ano de 2020, devido à diminuição de pacientes e à suspensão das cirurgias eletivas, os campos de estudo sobre Ginecologia e Obstetrícia, bem como os relacionados a intervenções cirúrgicas, foram bastante afetados com a redução de tais procedimentos. No entanto, operações de urgência como apendicectomias e partos continuaram a ser realizados normalmente. De acordo com o estudante, houve mudanças, também, na área da Pediatria. “Crianças, devido a creches e escolas, além de imunidade imatura, têm propensão a broncopneumonias, o que não aconteceu ano passado”, diz o estudante. “Quando eu passei na Pediatria não tive nenhum caso desses lá, algo que antes era bem comum”. Ademais, apesar do volume de pacientes já estar normalizado, Henrique relata que, neste momento, o HUM recebe enfermos mais graves do que o usual em determinadas patologias, devido à demora para procurar atendimento médico.

           Quanto ao serviço prestado aos contaminados pelo coronavírus, o estudante relata que o HUM é dividido em ala Covid e ala não-Covid. Os internos não atuam na ala Covid, devido ao seguro da universidade, a função deles dentro do HUM é o atendimento aos pacientes que chegam no Pronto Socorro e que, após passarem pela triagem, não tiveram sintomas respiratórios, nem suspeita de Covid-19 identificados, além de visitar cada enfermo internado e acompanhar as cirurgias. Porém, Henrique destaca que a maioria dos internos já precisou atender pacientes que, pelos sinais e sintomas, deveriam ter sido mandados para a ala Covid-19, ou que, durante o período de internamento, contraíram o vírus e foram transferidos para a outra ala.

           Se até mesmo profissionais da área da saúde já formados não estavam preparados para lidar com as consequências do coronavírus, o impacto da pandemia na vida dos estudantes foi também muito forte, não somente no âmbito acadêmico, mas, também, no pessoal. “Quando tive a notícia da volta do Internato em agosto, eu fiquei em dúvida se voltava ou trancava. Meus pais têm mais de 60 anos e têm comorbidades. Estava com muito medo de contrair e levar a Covid-19 para eles. Consegui, com ajuda do meu irmão, que não mora aqui, um apartamento de uma amiga dele e eu só pagava o condomínio, então, facilitou para eu morar sozinho, visto que, se eu tivesse que pagar aluguel, não conseguiria e teria que trancar para não por eles em risco”, conta Henrique.

           Embora afirme que o aprendizado não tenha sido tão afetado, o estudante pontua que o contexto pandêmico causou alguns adiamentos consideráveis, principalmente, quanto à data de formatura. “Teve um atraso importante. Normalmente, o sexto ano se forma entre fim de outubro e começo de novembro, para sobrar tempo para estudar para as provas de residência, tirar CRM e trabalhar. Porém, nós vamos nos formar entre dezembro e janeiro. Havia o risco de a formação ser em fevereiro. Contudo, estamos em discussão com a coordenação, pois isso nos prejudicaria bastante”, relata Henrique.

           A doutora Elisabete Mitiko Kobayashi, superintendente do Hospital Universitário de Maringá e Professora adjunta do Departamento de Medicina – UEM, também trouxe suas reflexões para o atual contexto pandêmico, avaliando-o como um momento ímpar, nunca enfrentado. Relatou, também, sobre as mudanças no Hospital Universitário de Maringá, afirmando que tiveram de se adaptar rapidamente ao contexto, a partir de mudanças de rotina e cuidados, infraestrutura hospitalar e recursos humanos. Elisabete reforça o conselho de que é preciso manter o distanciamento social, usar corretamente a máscara, desinfectar frequentemente as mãos e evitar a circulação de grande número de pessoas nas ruas.

          A superintendente revelou ainda que há, no HU, um Pronto Atendimento exclusivo para as síndromes respiratórias e que recebem um número variável de pacientes, mas gira em torno de 120 pessoas por mês, mas que também recebem pacientes por meio do SAMU. “Desde o início deste ano a taxa de mortalidade do Hospital Universitário tem sido alta, muito possivelmente pelas novas variantes, já que a maioria desses pacientes já chegam ao Hospital em estado grave e em poucos dias chegam a vir a óbito, tanto idosos quanto pacientes mais jovens”.

            Nas ações da Universidade e do HUM, houve uma parceria entre os departamentos de Medicina e de Física para a criação de capacetes de oxigenação. a professora Elisabete diz que participou da viabilização por meio da Associação dos Amigos do HUM,  financiando a manufatura dos capacetes e distribuindo para doação para os diversos serviços hospitalares. Ela afirma ainda que dois professores do Departamento de Física da UEM, Ivair Aparecido dos Santos e Luiz Fernando Cótica, desenvolveram o protótipo, baseando-se em modelos que já existiam. Assim, adaptaram o formato e o encaixe para melhor acomodar os pacientes. Elisabete avalia o modelo, pontuando que ele traz mais conforto ao paciente e complementa afirmando que o capacete se mostrou de extrema importância nos casos leves a moderados de hipoxia, permitindo um aumento na saturação de oxigênio e diminuindo a possibilidade de evoluir para a entubação e necessidade de leito de UTI. 

            A doutora Elisabete compartilha, também, a sua visão sobre o impacto da pandemia na formação dos futuros profissionais da área da saúde. “No início, as aulas presenciais foram substituídas pelo ensino remoto. Os estudantes do último ano de Medicina e Enfermagem se voluntariaram para auxiliar na parte administrativa e na  triagem de pacientes na entrada do hospital”, revela. Depois, pontua, ainda, que as atividades acadêmicas no Hospital Universitário retornaram, mesmo sem vacinação, e os alunos mostraram grande interesse em aprender ainda mais sobre a pandemia e sobre esse inesperado vírus. Na parte teórica, a professora afirma que o ensino se deu com as aulas remotas e que só será possível ter uma maior noção sobre a qualidade desse ensino quando esses alunos chegarem ao internato. 

            Para ela, ainda há muito o que avançar em termos de diagnóstico e tratamento da COVID-19. É preciso aumentar a testagem na população e os testes devem melhorar na confiabilidade, pontua.  Fez questão de evidenciar que, quanto ao tratamento, ainda não há nenhum medicamento específico para o tratamento da COVID, exceto as vacinas já desenvolvidas. Porém, mostra-se otimista quanto aos possíveis resultados das pesquisas em andamento sobre novas drogas que podem ser efetivas contra a evolução da COVID19. 

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