Nos últimos tempos, negar fatos e evidências se tornou comportamento corriqueiro no Brasil e no mundo, como uma espécie de resposta da hipocrisia instaurada em relação à pandemia da Covid-19, na insistência de algumas pessoas em viver suas vidas como se nada estivesse acontecendo. Não se têm mais dúvidas que, em parte, a gravidade da doença, com um número trágico de contaminados e de óbitos no país, se deve ao comportamento de adeptos ao negacionismo. Com a chegada da vacina, ainda a conta-gotas, as consequências dessa negação parecem ficar mais evidentes. Discursos antivacinas não faltam, sobretudo, nas redes sociais.
         Cientistas de vários países passaram meses estudando uma fórmula, em tempo recorde, que salvasse vidas e diminuísse o impacto da contaminação do coronavírus. E quando finalmente a sonhada vacina está entre nós, um número significativo de pessoas questiona sua eficácia e, não apenas isso, afirma que a pandemia não é perigosa como a imprensa noticia. Além disso, os próprios órgãos governamentais perderam a oportunidade de se prepararem com antecedência para um plano de vacinação mais amplo.
           Antes mesmo que a vacina contra a Covid-19 fosse testada, o movimento antivacina brasileiro já vinha dando seus sinais. Em 2019, por exemplo, casos de sarampo voltaram a ser notificados e, em 2016, o número de crianças vacinadas contra a poliomielite (paralisia infantil) ficou abaixo da média, fato que não ocorria desde 1990. Os adeptos do movimento antivacina demonstram uma descrença absurda na ciência e alegam que a vacina coloca em risco sua saúde como justificativa para não se protegerem. Teorias de que chips seriam implantados através da vacina para monitorar as pessoas circulam pela internet, e o que mais espanta é a quantidade de pessoas que acreditam nessa ideia absurda, mesmo em um mundo com tanto acesso à informação como o que vivemos. É no mínimo assustador observar que nos dias de hoje essas teorias, sem o menor fundamento, ganham mais força que aquelas comprovadas e defendidas por profissionais qualificados e especialistas, que dedicam sua vida às pesquisas e a soluções para os problemas de saúde pública.
            Ao mesmo tempo que muitos bradam que não tomarão a vacina, outros utilizam de seus privilégios para recebê-la antecipadamente. O plano de vacinação do Brasil, que passa a impressão de coisa feita às pressas, foi alvo de muitas críticas, principalmente quanto ao seu atraso num comparativo com outros países. Como se não bastasse a tardia chegada das vacinas, foram noticiados casos de pessoas furando a fila da vacinação, fazendo com que as doses planejadas inicialmente para os profissionais da saúde e outros grupos prioritários não fossem devidamente aplicadas. De um lado há um governo que desencoraja a vacinação e prevenção. Por outro, casos de desrespeito àqueles que se encontram na fila das prioridades, como profissionais da saúde e os idosos. E quando chegará a vez dos profissionais da educação?
             No próximo dia 18, professores e alunos voltarão à escola em todo o Paraná para um ensino híbrido que promete oferecer, na escola pública, todos os recursos físicos para a segurança máxima contra o vírus. Tudo isso no momento em que o estado enfrenta o maior número de casos de Covid-19 desde o início da pandemia. Em nada o cenário se modificou nesse quase um ano sem aulas presenciais. Os professores não são prioridade no plano de vacinação, enquanto crianças e adolescentes ainda não constam no planejamento. Foge à compreensão um retorno às aulas presenciais ainda sem a vacina. Em nada o cenário se modificou nesse quase um ano de pandemia. Na Europa, e mesmo no Brasil, houve notícias de escola fechando novamente depois de um surto da doença.
            A população brasileira vai seguindo exposta ao vírus e ainda estará por um tempo considerável até que a vacina alcance um número suficiente para barrar a contaminação. E depois da vacina? A crise de saúde será lembrada como uma pandemia que só existiu nos hospitais? A vida parece seguir como se ninguém se importasse, como se estivessem no “velho” normal. Enquanto isso, um certo cartão presidencial de vacina seguirá em sigilo.

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