por Lucca Portolese

 

           De todos os cursos que a Universidade Estadual de Maringá (UEM) tem a oferecer, um dos mais novos é o curso de Artes Visuais. Implantado em meados de 2009, forma de profissionais aptos a trabalhar com alunos nas escolas a especialistas em outras áreas (como em Artes Gráficas, em Desenho, em Escultura, em Gravura e Pintura etc.). Na realidade, a implantação de um curso em artes visuais na UEM começa no ano de 1979, quando são ministrados pequenos cursos de desenho, de cerâmica e de pintura como atividades de extensão, voltados tanto para a comunidade externa como para a interna. Durante todos esses anos de trabalho, houve a formalização da criação do curso propriamente dito, com a universidade constituindo diversos grupos de aprendizado e de pesquisa ligados à arte.

            O ponto inicial para a discussão de uma possível criação de um curso de graduação voltado para artes visuais na UEM ocorreu junto à realização de um Workshop intitulado Artes Visuais: Desafios e Perspectivas para um curso de graduação, realizado em março de 2009. Segundo o documento expedido pela Pró-reitoria de Ensino (PEN), o workshop tratou das seguintes temáticas: i) Cursos de Arte no Estado do Paraná (Prof.ª Josie A. P. Silva); ii) a implantação do curso de Artes Visuais na Universidade Estadual de Ponta Grossa (Prof. Nelson Silva Jr.); iii) “Escolinhas” de Arte no Paraná (Prof.ª Giovana Simão); iv) Políticas públicas de formação de professores e os cursos de Licenciatura em Artes (Prof.ª Ana Luiza Ruschel); v) Articulação: teoria e prática no curso de Artes Visuais e possibilidades de articulações com outros cursos de graduação (Prof.ª Josie A. P. Silva); vi) Laboratório de Criação Visual: ideias para uma graduação na relação Ciência-Arte (Prof. Marcos C. D. Neves). Devido à constatação da necessidade de criação de um curso especializado em formar professores de Artes Visuais, assim como outros tipos de profissionais, foi elaborada a logística do curso.

                Ainda segundo o próprio documento expedido pela PEN sobre a criação do curso, “A institucionalização de grupos e práticas artísticas fomentou nos últimos anos a abertura de novos departamentos e cursos de graduação que articulam arte e tecnologia, como os cursos de Design, Moda e Arquitetura. Bem como a ampliação do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, que desde a abertura do curso de graduação em Música em 2001, começa a consolidar a denominação de Artes”. É possível entender, portanto, como o curso de Artes Visuais está ligado à grande parte das outras formações pertencentes à esfera “humana” de pesquisa, como Letras, Música, Artes Cênicas etc. O campo da arte é um objeto de ensino e de pesquisa legítimo, assim como consta em documentos apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Por essa razão, a criação de um ensino superior voltado a essas áreas não deveria ser algo contestado, como vem ocorrendo, inclusive, por meio de figuras políticas brasileiras.

               A professora Sheilla Patrícia Dias de Souza trabalha na UEM desde 2011 e relata que o principal desafio é a resistência: “Resistir contra as políticas que tentam desvalorizar e impossibilitar a atuação no âmbito cultural”, ressalta a docente. Isso não é diferente na realização de pesquisas acadêmicas ou quando se trabalha em um estúdio, por exemplo. A desvalorização do artista é um aspecto geral na sociedade em que vivemos; inclusive, são criados entraves para que esses profissionais não consigam exercer plenamente suas profissões. O desmonte e a desvalorização do ensino de artes nas escolas só se confirmam quando surgem políticas que o tornam não obrigatório, ou seja, a disciplina de artes nas escolas não é vista como sendo tão importante quanto a de matemática ou a de ciências. Não querendo provocar rivalidades entre matérias, mas propondo uma reflexão, Souza comenta que “Há uma tentativa de diminuir os espaços das ciências humanas na sociedade”.  Podemos enquadrar nesses casos o ensino de sociologia e de filosofia, que também não é obrigatório; no entanto, vale ressaltar que tais disciplinas, assim como praticamente todas as ligadas aos cursos enquadrados nas Ciências Humanas, contam com o relato histórico e transmitem valores culturais. Essas ciências recebem esse nome exatamente por lidarem com variados aspectos do “ser humano”; na fala da professora, são importantes, “pois dão condições da sociedade formar um pensamento crítico. Eles ensinam a sociedade que existe uma forma de conhecimento sensível, capaz de apontar para alternativas de formas de vida menos ‘desastrosas’ para as novas gerações. Saídas que contam com a valorização da sensibilidade, expressão, generosidade e valores que tenham em conta a sobrevivência das futuras gerações”, argumenta a docente.

                A identificação com o curso ainda é um fator decisivo no momento de escolher a graduação. Com a ajuda das “pessoas que resistem”, nas palavras de Sheilla, ainda existem casos como o da estudante Yasmin Grigoli Zoccante, que está no primeiro ano de Artes Visuais. “Desde sempre, tive facilidade na área de humanas e sempre gostei de desenhar. Quando tive que decidir qual curso fazer, eu sabia que iria fazer alguma licenciatura, pois sempre quis dar aula. Então, juntei o útil ao agradável e fui para as artes visuais”. Quando questionada sobre o que esperava do curso, a discente respondeu: “Na realidade, está sendo muito melhor que eu pensava. Antes de entrar, eu recebi informações não tão positivas, então, ingressei com poucas expectativas, mas está sendo sensacional”. Vale ressaltar que essa desmotivação que os estudantes enfrentam na hora de escolher a graduação é um reflexo do “preconceito” da sociedade em geral, que, infelizmente, é algo comum. Como também relata a estudante Jaqueline Silva do Nascimento, do 3.º ano do curso. Jaqueline conta sobre o seu processo de escolha: “Não era a minha primeira opção de curso, mas decidi prestar o vestibular para Artes Visuais, pois sempre tive apreço pela licenciatura, história da arte e curadoria. Também tive um grande incentivo do meu professor de Artes do ensino médio”. Isso demonstra o quanto é realmente importante o incentivo positivo para impulsionar alguém a “fazer o que gosta”.

                Sobre a sua futura carreira, Jaqueline responde: “Pretendo seguir na área da licenciatura e o curso fornece com qualidade as disciplinas necessárias/básicas para a formação docente em Artes Visuais”. Já Yasmin complementa: “Conforme eu descubro uma nova área das artes visuais, eu tenho mais dúvida em qual carreira seguir, porém acredito que o curso ajudará a sanar minhas dúvidas. Além do que ele me ajudou a entrar no mundo da arte e pesquisa, e vai me preparar para lecionar, o que considero, por enquanto, ser meu objetivo principal”. A estudante ainda vai além: “Artes Visuais não é apenas sobre desenhar, é um curso lindo, que te ensina a utilizar das suas produções para chegar até as pessoas. Como a arte é capaz de influenciar no desenvolvimento do ser humano e muito mais. Além disso, produzir arte não é dom, é experiência, então, qualquer um pode fazê-lo”. Ainda sobre as características do curso, Jaqueline se manifestou: “Penso que a peculiaridade mais notável do curso seja o incentivo para o desenvolvimento da poética artística. Embora o curso seja de licenciatura, ao nos colocarmos enquanto artistas produtoras de arte, nos é possibilitado um entendimento maior da arte que aprendemos e iremos ensinar”.

                A professora Sheilla Souza ainda faz um último lembrete àqueles que estão em dúvida de qual graduação seguir ou que contestam a sua seriedade: “O curso de Artes Visuais oferece formação em artes visuais voltado para a docência, mas também há disciplinas práticas como desenho, pintura, escultura, entre outras. O curso recebeu pontuação máxima no Enade [Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes] recentemente”, conclui a professora.

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