por Vitória Floriano

           Os cursos superiores que pertencem à área de Humanas são de grande importância, já que possibilitam que a sociedade se compreenda. Um dos cursos que faz isso mais efetivamente, no que diz respeito à análise crítica de questões que envolvem os próprios praticantes, é o de Ciências Sociais. Com o intuito de analisar a sociedade e de depreender reflexões acerca de diferentes temas, as relações raciais vigentes na época, por exemplo, o curso surge no Brasil, na década de 1930, por meio da atuação de Florestan Fernandes, pai da Sociologia brasileira. O curso de Ciências Sociais é abrangente para quem o escolhe, pois abarca tanto a pesquisa quanto o ensino, permitindo, dessa maneira, que o profissional formado atue em salas de aula ministrando a matéria de Sociologia ou, ainda, estude e contribua para o fazer científico do país.

            A formação profissional desses cientistas sociais é de suma importância. Segundo a professora Dr.ª Marivânia Araújo, docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM), “os alunos são formados para analisar a sociedade, pensar a ação dos indivíduos na coletividade e tudo que as pessoas fazem nesse ambiente coletivo”. Desse modo de pensar surgem as pesquisas nessa área, as quais, por não gerarem retorno imediato ou palpável, como as das áreas da saúde e de exatas, acabam sendo pouco ou nada reconhecidas, porque “a nossa sociedade, em geral, prefere produtos que sejam materiais ou que tenham o seu objetivo ou o seu resultado mais evidente”, explica a professora. Isso acontece, pois ‘’a produção, muitas vezes, não é passível de ser usada por todos. Embora seja uma produção importante, ela não é material e não é inteligível para a maioria da população, ficando, quase sempre, restrita à academia, aos profissionais da área e das áreas afins’’, enfatiza Marivânia.

            As pesquisas na referida área analisam e interpretam a sociedade. Segundo Marivânia, porém, os estudos acabam não interpretando toda a sociedade e sim fatos específicos, problemas e causas específicas; sendo assim, essa característica dificulta um pouco o entendimento geral da capacidade e da força dessa ciência. Isso tudo se faz importante para a professora, já que essa ciência faz “pensar o porquê de as coisas acontecerem da forma como acontecem. Quem produz? Para quem produz? Qual é a forma de produção? Quando eu falo produção, me refiro à produção política, social, econômica, cultural, religiosa etc.”, pondera. Embora esses estudos científicos sejam, muitas vezes, impalpáveis por se pautarem na interpretação social, eles geram retorno à sociedade; esta, no entanto, acaba não percebendo e, consequentemente, não fazendo a ponte com os criadores desse retorno – os cientistas sociais. Esse retorno pode ser gerado, por exemplo, mediante a criação de políticas públicas como a alteração de áreas da economia e da política por meio do registro da cultura, do conhecimento e da linguagem de grupos minoritários. Além disso, “os antropólogos e antropólogas podem fazer análise sobre terras indígenas, quilombolas e tradicionais. Essas análises podem auxiliar na demarcação e na titulação desses territórios”, esclarece a pesquisadora.

                Para além das pesquisas realizadas pelos cientistas sociais e da sua contribuição à sociedade, há, no curso, a formação para a licenciatura dos que ingressam nessa área e que, posteriormente, ministrarão aulas aos alunos do ensino médio. Maria Fernanda, aluna do terceiro ano do ensino médio, afirma que o ensino de Sociologia dá base para formular teses críticas e que, por meio das aulas, “nós, estudantes, temos um amplo conhecimento sobre a relação que o indivíduo tem com a sociedade”, complementa. Daianara Thomaz, estudante do quarto ano da graduação em Ciências Sociais pela UEM, concorda com a fala de Maria Fernanda e ainda acrescenta que “a disciplina vai para além da formação de um pensamento crítico, pois ela está no ponto exato em que o aluno consegue visualizar o seu local dentro de uma sociedade e compreender o que ela é, pois, quando vamos conversar com os alunos, percebemos que conceitos como esse, os de cultura e política, ainda são muito vagos. Desse modo, a disciplina os ajuda a compreender melhor tudo isso do mesmo modo que, assim como a Matemática os aproxima de números que estão o tempo todo no nosso cotidiano, a Sociologia faz o mesmo, pois faz com que o aluno fique próximo de algo que ele já tem vivência, mas com uma perspectiva que busque contextos históricos e sociais, além de justificativas para tanto’’.

                 Na tentativa de aliar o ensino à formação do pensamento crítico dos alunos, a Sociologia aborda temas diversos, como a política, a democracia, a constituição, os direitos e os movimentos sociais; além disso, buscar ultrapassar as salas de aula, como demonstrado anteriormente por Daianara. Dessa forma, a Sociologia se faz presente na vida cotidiana dos discentes; consequentemente, surgem diferentes debates que se aproximam da realidade do aluno, que, por sua vez, passa a contestar as suas próprias vivências, como atesta Daiane Gomes, professora Mestra pela Universidade Estadual de Londrina. Gomes ainda ressalta que a educação é a única forma válida de transpor uma barreira social de desigualdade, formando o aluno para diversos temas como a Sociologia do meio ambiente que “é algo que está em voga e que não se fala apenas para a construção de um cidadão, mas também para ter uma pessoa que chegue em um vestibular e construa com coerência uma redação que seja teórica e tenha argumentos, por exemplo”, explicita a docente.

               Consentindo com Daiane, Daianara afirma que a disciplina em questão, aliada à Filosofia, “não só proporciona a produção e um pensamento crítico, mas também é uma ferramenta de compreensão da sociedade, pois é uma área do conhecimento que vai trabalhar com fenômenos corriqueiros na vida dos alunos, por exemplo, as instituições sociais, como a escola e a igreja. Sendo assim, a Sociologia as coloca como objetos de estudo, fazendo com que os alunos possam ter a livre escolha de seguir a ideologia com que mais se identificam”. A acadêmica ainda frisa a potência da disciplina, pois, já no ensino médio, o professor consegue aliar as discussões acadêmicas às práticas pedagógicas cabíveis à educação básica.

               Daianara, porém, elucida uma situação recorrente na graduação: ‘’há uma ideia, infelizmente, equivocada de que nós, graduandos, temos que escolher a pesquisa ou a licenciatura”. De acordo com a discente, essas duas práticas pedagógicas são de grande importância, uma vez que são elas que o professor usa ao entrar em uma sala de aula, ou seja, todo o seu saber científico é aplicado pedagogicamente de modo a traduzir ou a adaptar de forma compreensível para os alunos todas as fontes científicas estudadas em pesquisas da área do ensino. “Ao compreendermos como se dão as relações sociais, pessoais e institucionais, podemos ver até que ponto o método clássico de ensino está defasado ou até que ponto podemos avançar ou retornar para recuperar algumas coisas que foram perdidas no caminho do aluno”, justifica a graduanda.

               O caminho que um aluno percorre durante o ensino médio vai sendo modificado à medida que os estudos vão afunilando e se tornando compreensíveis. Maria Fernanda é um exemplo disso: aluna do terceiro ano do ensino médio, ela tem convicção de que não existem disciplinas mais ou menos importantes; “é muito importante que todos tenham, pelo menos, um ensino básico de cada área do conhecimento”, argumenta a estudante.

              Como cada matéria escolar aborda questões diferentes umas das outras, no ensino de Sociologia, os temas levantados se voltam à tolerância. Conforme a professora Dr.ª Marivânia Araújo, assuntos como as elites, as desigualdades, a exploração, a dominação etc. “são elementos que não são naturais, mas são frutos das relações sociais. Alguns elementos como o racismo, preconceito e discriminação não estão naturalmente constituídos pelos indivíduos”. Como se pode perceber, a desconstrução de certos pensamentos institucionalizados cabe à Sociologia, pois, por meio dela, mostram-se diversas culturas aos alunos, inclusive as deles próprios. A professora Daiane Gomes explica que “as pessoas acreditam que a cultura é algo valorativo, muito relacionado à intelectualidade, à busca por conhecimento literário e científico, mas a cultura pode ser apenas um café que a avó oferece quando um neto chega na casa”, ou seja, a discussão sociológica desconstrói alguns tabus. A docente ainda expõe que o entendimento do que é uma cultura faz que os alunos percebam o que é uma intolerância religiosa, por exemplo. Por meio dessa compreensão, os adolescentes  olham para o outro e entendem “que as pessoas apenas são diferentes e que não são nem melhores nem piores que os outros; são apenas situações diferentes e que devem ser respeitadas”, salienta Gomes.

                Com isso, o curso de Ciências Sociais gera, por meio de seus estudos e de suas pesquisas científicas, muitas contribuições em âmbitos diversos, como abordado anteriormente, as quais são de suma importância para a sociedade em geral. Como destacado, a Sociologia está presente na demarcação de terras indígenas e quilombolas, já que há um estudo aprimorado das condições sociais de vida dos integrantes desses espaços, até no ensino médio, período em que os alunos são estimulados a pensarem e a formarem as suas próprias opiniões e ideias acerca de temas voltados às relações e às interações sociais entre culturas diversas. Assim, fica mais que evidente que pesquisa e ensino sempre se cruzam nas Ciências Sociais.

 

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