por Laura Galuch

 

            Daniela Arbex e Paulo Cesar de Araújo marcaram presença na Festa Literária Internacional de Maringá (FLIM), ontem (10). No início da tarde, a autora se encontrou, no auditório Capitu, com alguns integrantes de clubes de leitura para comentar seus livros – Holocausto brasileiro (2013), Cova 312 (2015) e Todo dia a mesma noite: a história não contada da boate Kiss (2018). Em momento marcado pela troca de impressões entre ela e seus leitores, bem como pela resposta a algumas perguntas, Arbex falou sobre seus livros e seu processo de escrita.

            “É preciso construir a memória coletiva”, afirmou a autora. Para isso, essas histórias precisam ganhar destaque, já que “a omissão gera a barbárie”, explicou. Sendo assim, a jornalista disse que, na elaboração de seus livros, buscou vários ângulos de uma mesma história, oferecendo aos indivíduos entrevistados uma escuta qualificada, sem julgamentos. Questionada sobre a temática de suas obras, a autora mencionou que não deseja escrever somente sobre tragédias, mas que tem consciência de que “o jornalista escreve aquilo que a pessoa precisa ler, mas que, muitas vezes, nem ela sabe”, finalizou.

             No fim da tarde, a autora voltou ao mesmo auditório juntamente com Paulo Cesar de Araújo. Sob a mediação do jornalista Victor Simião, os autores compuseram a mesa “Vidas que contam vidas”. Logo no início, todos enfatizaram que seria uma conversa sem censura.

            Em sua fala, Paulo Cesar de Araújo, autor de Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar (2002), Roberto Carlos em detalhes (2006) e O réu e o rei: minha história com Roberto Carlos, em detalhes (2014), discutiu a criação de seus livros, bem como o processo judicial que recebeu de Roberto Carlos. Ao ser questionado pelo mediador, o escritor comentou sobre a sua responsabilidade em relação à censura, uma vez que a sofreu quando publicou o livro sobre o cantor e compositor da Jovem Guarda. Araújo foi claro ao dizer que tal embate judicial não pode ser esquecido, principalmente porque diversos artistas apoiaram o cantor. “Foi incompatível com a própria história deles. Isso não pode ser esquecido; é um caso a ser estudado”, completou. Para finalizar a sua participação, o jornalista deixou um recado importante: “Nós somos resultado de leituras”, concluiu.

         Em seu segundo momento de participação nesse domingo, Daniela Arbex enfatizou que literatura é resistência. Em um período em que há riscos de retrocessos, em que o brasileiro é pouco representado, “é importante dar voz para diferentes causas, diferentes pessoas”, ponderou. Segundo ela, nem sempre o jornalista escolhe a sua pauta; ele quem é escolhido, desmistificando o caráter imparcial do jornalista que, muitas vezes, é tomado pela afetividade. Sensação que, para ela, é necessária quando se propõe a contar a história de outrem, já que “para contar a história do outro, você precisa construir uma relação”, explicou. Nas palavras da jornalista e escritora, por meio desse vínculo, há um entrega mais profunda dos entrevistados que contam fatos relacionados à sua memória afetiva. Finalizando a discussão, a autora enfatizou que é evidente que não há construção da memória nacional; justamente por isso, “é uma honra dar voz a quem não tem”, reiterou.

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