por Flaviane Moraes

           “Resistências” foi o tema da 5ª edição da Festa Literária Internacional de Maringá (FLIM) que aconteceu dos dias 21 a 25 de novembro. E a FLIM compõe a 12ª edição de O Consoante que esteve no “gargarejo”, noticiando algumas das atividades da Festa desde a Pré-FLIM. Com destaque para as temáticas evidenciadas , trazemos uma panorama das vozes que ecoaram na Festa, vindas de diferentes lugares do país e do exterior.

            A FLIM contou com diversos autores em lançamentos de livros, mesas redondas e palestras. O titã Tony Belloto falou sobre suas obras, enfatizando a primeira, “Bellini e a esfinge”, e a última, “Lô”, destacando seu processo de escrita, seus personagens, sua inspiração para criar, “os demônios internos que te movem, um sentimento nebuloso que te leva a compor, a tocar, a escrever”; Ilan Brenman discutiu sobre a literatura infantil, a necessidade de ofertar literatura de qualidade às crianças, e teceu críticas ao modismo do “politicamente correto”  que recai sobre contos infantis e cantigas; Cassia Leslie e Ricardo Dalai lançaram o livro “O Príncipe Atrasado”, uma paródia dos contos de fada “A Bela Adormecida” e “Cinderela”; Fabrício Carpinejar fala sobre seu último livro, “Cuide dos pais antes que seja tarde demais”, refletindo sobre a maneira como a maioria das pessoas enxergam a paternidade/maternidade e assumindo que o livro é como um pedido de desculpas aos próprios pais. Guilherme Rezende Machado e Rafael Fabris Guedes, dois jovens autores, também lançaram seus livros, respectivamente “Cacografia” e “Poesia e cor”, e falaram de seus processos criativos e motivações para escrever.

            Abordando de forma mais específica as minorias, Paulo Lins e Cidinha da Silva falaram em mesa redonda sobre “A força da palavra do negro”. Ela é autora desde 2007, ex-presidenta do Instituto da Mulher Negra e fundadora do instituto Kuanza. Ele, autor de “Cidade de Deus. João Silvério Trevisan, autor de “Devassos no paraíso”, expôs sua experiência como pesquisador. Escritor e ativista LGBT no território brasileiro, falou de seu livro “Pai, pai” que o “despe”, por meio de personagens, e narra um pouco da sua própria infância, já que Trevisan, homossexual assumido, conta detalhadamente os preconceitos que sofria, não só por seu pai, ao ser tachado como um “marica”. Selva Almada, escritora argentina, a partir de seu último livro, “Garotas Mortas”, de 2014, discute o feminicído, relatando que a obra conta casos reais sobre a morte criminosa de mulheres, sendo o primeiro caso do livro (o assassinato de Andreia, uma menina de 13 anos, morta enquanto dormia em sua casa) a motivação para a produção do livro.  

            Ampliando as discussões, durante o Café Literário, Terezinha de Oliveira (UEM) inicia a discussão “Educação e liberdade” com a pergunta “O que nos faz perder a liberdade?”, e fecha com “Se a educação é a premissa básica para liberdade, qual o futuro do país no qual apenas 2,3% das crianças de 9°ano são capazes de resolver questões de matemática e ciências?”; Em outro momento, a mesma professora também proferiu a palestra “Ética e cidadania: o papel do livro e da leitura na promoção humana”, explicitando a dificuldade que a sociedade tem para entender esses conceitos; Fabíola Farias, Gerente de Coordenação de Bibliotecas e Promoção da Leitura da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, fala sobre a importância das bibliotecas e sugere que o público pense além de os “Caminhos da Leitura”, título de sua palestra, mas sim, pense em “Os horizontes da leitura”.

            Estabelecendo comparações com o texto literário, os professores Dr. Daniel Gardelli e Dr. Marcos Danhoni, ambos do departamento de Física da UEM, participaram da mesa-redonda intitulada “Literatura e Ciência: um diálogo possível”, Daniel Gardelli defende e exemplifica que a literatura esteve desde o começo ligada à ciência, e Marcos Danhoni alerta aos interessados que não se contentem apenas com os filmes que abordam a ciência, visto que esta sofre um processo de romantização. É necessário que procurem os livros. Já o jornalista Nilson Monteiro proferiu a palestra “Texto literário versus jornalístico”, estabelecendo a relação proposta e compartilhando um pouco de suas histórias como redator e editor-chefe do jornal Gazeta Mercantil.  

            O espetáculo “Do Teatro Brasileiro de Protesto” é composto por seleção e articulação de canções, textos, fragmentos de peças de protesto produzidas entre os anos de 1964 e 1968, e o inédito “Rap para Tiradentes”. Conforme Montagnari, esse trabalho é dedicado “a todos que emprestaram e que emprestam suas vozes para dizer não às múltiplas violências de todos os dias”.  

             Até o futebol bateu um bolão nessa edição da FLIM, Larissa Bezerra, jornalista e autora de “O lado esquerdo da arquibancada”, de 2017, e Luigi Ricciardi, escritor, crítico literário e professor, participaram da mesa “Literatura, futebol e resistência”. Durante o debate foram abordados o movimento histórico conhecido por “democracia corinthiana dos anos de 1980”, e o atual, um novo movimento de conscientização política e resistência, que envolveu 69 torcidas de futebol requerendo democracia no esporte. Também falaram sobre a influência do capitalismo que fez do futebol um comércio, sobre  a violência nos estádios, o futebol feminino e a mulher no futebol.

 

 

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