Por Ana C. Almeida e Tiago Guimarães

          Os anos de 1964 até 1985, no Brasil, foram obscuros. Os chamados “anos de chumbo” lançaram sobre as terras brasileiras uma nuvem cinza de poder, repressão, torturas, assassinatos e exílios. Os militares tomaram o poder no ano de 1964, por meio de um golpe orquestrado a partir da situação econômica precária do governo de João Goulart, tendo como apoiadores o governo norte-americano. A partir do Ato Institucional Número 5 (AI5), conhecido como o mais terrível dos dezessete atos institucionais, emitido por Costa e Silva em 1968, aumentou ainda mais a grande nuvem negra que encobria o país; este ato controlava toda e qualquer produção intelectual, cultural e educacional.

A educação brasileira

          De acordo com os dados do arquivo público intitulado “Memórias da Ditadura”, o setor de educação básica sofreu fortes represálias durante o período ditatorial, tendo professores e alunos perseguidos, torturados, exilados e assassinados.

          As escolas passaram por diversas reformas na sua organização pedagógica e curricular. Direcionaram os estudos para a formação de mão de obra, por meio de cursos técnicos, no quais os alunos estudavam junto com o ensino médio. Outro grande objetivo dentro das escolas era a difusão da ideologia favorável ao regime, por meio de aulas de moral, civismo e patriotismo. O modelo de educação dura e violenta ensinava o respeito pelo medo e pela repressão.

          As universidades públicas eram um alvo constante da repressão, na qual professores e acadêmicos lutavam de todas as formas, por meio de vários tipos de protesto contra o regime. Embora o governo militar compreendesse a universidade como uma grande potência de criação tecnológica muito específica aos interesses militares.         Devido às grandes represálias sofridas, muitos professores e estudantes desapareceram, foram torturados e exilados do país. Um caso muito famoso foi o do estudante Edson Luís de Lima Souto, morto pelos militares depois de um ataque a aproximadamente 300 alunos, em um restaurante no dia 28 de março de 1968. De acordo com o Arquivo da Ditadura, seu velório se tornou um marco na época, pelos protestos que o mesmo incitou em todas as partes do país.

          As universidades resistiram fortemente nos tempos de extrema repressão onde diversos tipos de violência mantinham-se à frente do negócio – o Estado. O peso da resistência é sempre doloroso e, para as universidades, ceder as impediria de cumprir com seu papel de produzir e articular saberes. Durante o regime autoritário, acreditava-se que as instituições de ensino superior deveriam formar profissionais e desenvolver tecnologias. Para tal fim, as aulas eram controladas e censurava-se a circulação de ideias que fugissem do pensamento conservador imposto pelos ditadores.

            Não aconteceu diferente com a Universidade Estadual de Maringá. O professor Reginaldo B. Dias, docente do curso de história, comentou que a UEM foi criada justamente nesse período obscuro da história do Brasil, com uma lei no final de 1969, implantada em 1970, no auge da ditadura. A universidade foi fundada a partir das diretrizes da reforma universitária de 1968, que contava com um sistema de gestão que excluíam da comunidade universitária a prerrogativa de participar democraticamente. “Era um sistema de gestão autoritário, uma cadeia de gestão que não se baseava na eleição direta”.

          O sistema repressivo abarcava o país, o que implicou em punições e medidas. Dias comentou que as entidades estudantis eram tuteladas, que havia um espaço para certas negociações, mas os limites eram claros. “A Associação dos docentes da Universidade Estadual de Maringá, por exemplo, foi criada fora da UEM, as assembleias aconteciam no Colégio Gastão Vidigal”, afirmou. O controle era feito por uma assessoria de segurança e informação, um serviço de vigilância política que monitorava os conteúdos internos das instituições, como contratação de professores.

            O contexto de criação da UEM impedia que ela acompanhasse a redemocratização do país, pois já que não tinha uma tradição acadêmica precedente, deveria passar por um processo de democratização. É por essa falta de tradição que, aos poucos, foi se instaurando “uma cultura de resistência que se combinava com o desafio de você constituir uma universidade num ambiente coercitivo”, explicou Reginaldo Dias.

             Ao olharmos a história, compreendemos o contexto que a UEM e diversas outras instituições foram fundadas, ou seja, em um período politicamente complexo, no qual o conhecimento era cerceado pelos interesses do regime militar. No presente podemos observar os vestígios da repressão e o controle do conhecimento, o sucateamento das instituições públicas de ensino e da imagem do professor. Temos também, ideias de cunho ditatorial sendo propagadas, o que nos leva a perceber a importância de retomar a história e refletir sobre esse fantasma que encobriu nosso país das décadas de 60, 70 e 80 do século passado.

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