por Ana Caroline Almeida

          Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica “Data querida”, diz que merecemos festa comemorativa por completarmos voltas ao redor do Sol. O curso de Letras, da Universidade Estadual de Maringá, completa cinquenta voltas. O melhor de tudo é que tem gente pra caramba batendo palmas festivamente. Tem gente, como eu, que chegou há pouco, outros estão praticamente desde o início… mas esses não são velhos, são vividos, sabemos.

         É interessante que dentro da gente o coração fica pulando de uma alegria meio boba. Nós, todos bestas, que nos arriscamos em terrenos sombrios da linguagem, que mergulhamos fundo em poemas, em teorias várias. Nós que somos deixados de lado por governantes, quase nunca somos bem remunerados, mantemo-nos firmes. Isso porque acreditaram, lá no início, e continuam acreditando que daremos certo.

           “Dar certo”… está aí algo que não cansamos de escutar de nossos professores dentro das salas de aula, de nossos orientadores, de nossos colegas. A gente quer mesmo é dar certo, como dizem, para que se possa comemorar mais aniversários do curso que escolhemos. A gente quer mesmo dar certo para reconhecer a nossa batalha, para completar mais uma volta ao Sol. Meio a Richas e Temeres, o sistema solar parece coisa quase que pequenininha.

            A gente vai levando.

         Em tempos festivos cria-se uma esfera memoriosa, um clima chistoso de recordação. Todo mundo quer se lembrar, contar fatos reminiscentes, expor fotografias de época. Época de cabelos. Paro para pensar: é coisa das Letras a calvície? Que seja… Estamos carecas de saber que nós, das Letras, somos razoavelmente esquisitos, um pouco incompreendidos, mas sempre felizes em nos explicar – citando uns caras bons, uns Candidos, uns Possentis.

            É certo que a data é digna de comemorações e que o corpo docente merece longas gratificações e parabenizações, mas aqui não é lugar para “puxar saco”, vai que caio em predileções. A gente, que é tão pequeninha perto de tanta gente boa, tenta ser um pouquinho do que cada bom professor nos ensinou.

          Permanece um rastro de uma felicidade buliçosa ao dar-me conta de que a calvície linguística e literária só atinge aos homens. Nossas professoras permanecem divas. Divas astutas e sapientes escancarando-se intelectualmente, abrindo cortinas e protagonizando longos caminhos.

            Meio século é uma idade difícil de se fazer – me desculpe aos que já a tem. Espero que tenha bolo e velas.

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