por Giovanna Ursulino e Lucca Portolese

 

       Passamos por dezenas de professores ao longo da nossa vida, desde a educação infantil ao ensino médio, ou mais, quando optamos por fazer uma graduação. Esse contato com os professores é o que nos inspira dia a dia de diversas maneiras e dele nascem laços entre professores e alunos que os unem e os tornam dependentes um do outro. O professor corresponde desde cedo à figura do ‘sabedor’ das coisas, atuando muitas vezes como figura paterna/materna, amigo, psicólogo, conselheiro – quantas vezes não recorremos aos nossos professores quando algo nos aflige? – e autoridade que impõe respeito e limites. Com todas essas experiências escolares e buscando desmistificar a figura do professor uma pergunta deve ser feita: Existe um professor ideal?

       Durante muito tempo esta profissão ligava-se à ideia do indivíduo extremamente sério, detentor de todo o conhecimento, cuja obrigação era transmiti-lo aos alunos. Com o passar do tempo essa visão foi se alterando, o professor ganhou leveza e dinamicidade que atuam como mediadores do conhecimento, desenvolvendo em seus alunos habilidades durante o processo de aprendizagem.

       O professor é muitas vezes uma pedra no caminho dos governantes. Quantos discursos políticos não tentam colocar a sociedade contra os professores, dizendo que eles são influenciadores contra o governo? A verdade é que esta profissão, responsável pela formação de indivíduos competentes nas mais diversas áreas, também é criticamente capaz de abrir os olhos dos futuros eleitores para que aprendam a questionar, refletir e agir socialmente com ética e justiça. O papel do professor é formar cidadãos.

        Com um trabalho tão belo e necessário, há, no entanto, um número muito baixo de jovens que tendem a buscar por carreiras na licenciatura. Um levantamento, feito a partir dos dados obtidos no site da Universidade Estadual de Maringá em relação à concorrência do Vestibular de Inverno de 2017, mostra que dos 17.932 inscritos, apenas 2105 são candidatos em cursos de licenciatura, correspondendo a apenas 11, 73% das inscrições. Com um número tão pequeno e com uma crise educacional em nosso país, é necessário desmistificar a figura do professor, reconhecendo seu trabalho, fruto da fé na humanidade, e livrando-o dos preconceitos inculcados por uma sociedade que tende a menosprezar seu trabalho, sem o qual não se sobrevive.

        No decorrer dos anos escolares é comum gostar mais de um ou outro professor, estas preferências superam as disciplinas lecionadas, as broncas e o estilo do professor, por uma questão de “feeling” entre professores e alunos.  Na boca dos alunos, os professores correm o risco de significar muitas coisas, mas nunca serão pessoas que passam despercebidas por suas vidas. Aluno do ensino fundamental II, Gustavo, de 13 anos, afirma que uma das características para uma pessoa ser um bom professor é “ter gosto pelo que faz e transmitir isto aos alunos durante as aulas, direta ou indiretamente, sabendo ensinar o conteúdo corretamente”. Se há esse gosto pela profissão então não há motivos para que um professor acredite que alguém seja melhor porque trabalha com alunos mais velhos ou mais novos.

       Para os professores esse caráter humano que cerca o processo de ensino faz-se presente em todas as etapas. Rosiéle C. M, professora da rede municipal de educação infantil nos conta sobre como é a relação com os alunos. “Sou professora da educação infantil há 24 anos e ao longo dos anos recebi alunos com diferentes problemas. É comum que eles procurem no professor o que muitas vezes não encontram na família”. Ela relata que em meio a tantos desafios e críticas o papel do professor é fundamental desde a educação infantil. “As pessoas em nossa sociedade pensam que ser professor é ser inferior, pior ainda, quando se é professor na educação infantil. E isso não é pensamento apenas de pessoas leigas, mas também dos próprios colegas de profissão que acreditam que brincamos com a criança o dia todo”. O fato de as pessoas acreditarem que a educação começa no ensino fundamental e se torna realmente importante apenas no ensino médio é um grande equívoco de todos que encaram o meio educacional sem o olhar agudo de quem estudou para isso, que dirá dos próprios professores, que após anos de estudos em seus cursos de licenciatura repetem essas barbaridades, menosprezando a própria classe.

         Um bom professor vive da certeza que tem no seu papel de formador. A partir de uma questão apontada pela professora Rosiéle, nota-se que este papel é, realmente, fator essencial do processo educacional. “Sabemos que os alunos nesta etapa [educação infantil] necessitam de profissionais que proporcionem o seu desenvolvimento global, tornando-os indivíduos independentes e capazes de socializar com o grupo”. Para ela a maior realização do professor está “entre o educar e o cuidar, que caminham juntos na educação infantil, no sentimento de prazer e alegria quando um dos seus alunos diz que você é especial. Mais importante que cumprir com planejamentos mirabolantes, é perceber que seu aluno cresceu tanto no aspecto motor, intelectual e psicológico de forma plena, mostrando que ele está pronto para receber novos conhecimentos e construindo seu caráter como indivíduo”.

         O Prof. Dr. Renilson Menegassi reforçou o que foi dito pela Prof. Rosiéle, mostrando que as questões aqui discutidas não estão alheias à profissão, e muito menos a sociedade. Para Menegassi, o bom professor precisa ter “domínio do conteúdo que será dado em sala de aula, e o respeito com a pessoa aluno ao qual ele dará o conteúdo”, pois “com o domínio de conteúdo, o aluno perceberá que você não está indo para sala de aula fingir que é um professor, e se tiver respeito pela pessoa do estudante, ele saberá que você está indo lá para ensinar”. Menegassi apontou a importância de ser a autoridade em sala de aula sem se tornar autoritário, “um professor com características tem a liberdade de brincar, rir, contar piadas em sala de aula, mas quando ele começar o conteúdo os alunos o respeitam e prestam atenção, criando um bom ambiente para ensino da matéria escolhida”.

         Um bom professor deve procurar a melhor maneira de ajudar seus alunos, pois “não importa se você está em uma escola do centro, ou na mais distante e isolada, o professor precisa dar conta de ensinar a pessoa que ela precisa aprender a matéria para poder ser utilizada de forma satisfatória em sua vida”. A questão do respeito ao aluno deve ser ressaltada, sem o rebaixar da condição de “pessoa pensante”, no qual o professor se vê como detentor do saber absoluto, e o aluno um mero receptor, com mais ou menos direito de saber de acordo com a escola de onde vem, e impedindo-o de se tornar sujeito de seu processo de aprendizagem.

         É evidente a impossibilidade de existir uma pessoa capaz de atender todas as necessidades que os alunos terão dentro da sala de aula, ou por que não tem a experiência necessária para lidar com as diversas situações apresentadas em sala de aula, ou porque não há meios que os ajudem a resolver todos os problemas dos alunos. Muitos acreditam que o professor sai totalmente formado da faculdade, mas isso é um engano, o bom profissional se constrói após sua formação, quando o contato com os desafios o ensinar na prática qual a melhor maneira de proceder em diversas situações.

         Não há uma pessoa ideal para todos os tipos de alunos, simplesmente pelo fato de as pessoas serem diferentes. Longe de ser um defeito, apenas reforça o quanto as pessoas são únicas e se esforçam para contribuir positivamente na vida de um estudante, tornando o mundo mais rico ao permitir que os alunos tenham contato com diversos pontos de vista e leituras de mundo. Os professores que têm consciência de que ninguém é perfeito, de que ainda há muito a ser aprendido ao longo da caminhada e por isso não tem medo de ser ajudado por todos -inclusive os alunos- torna a profissão mais prazerosa e repleta de relacionamentos enriquecedores. Ressaltar a importância do professor, dentro das suas limitações como ser humano e também do seu esforço em prover os alunos de toda criticidade e capacidade para enfrentar os desafios da vida, é necessário para dia após dia construir-se uma visão justa dessa profissão que se torna símbolo de um período (importantíssimo) da vida de todos e nos constroem como seres humanos.

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