por Bruno Barra

             Desafiar limites foi a proposta da 7°edição da Festa Literária Internacional de Maringá. De modo remoto, devido ao contexto pandêmico, a FLIM movimentou grande público leitor entre os dias 9 e 13 deste mês. “Realizar a Festa foi um desafio desde o começo. Nós não tínhamos nenhuma perspectiva, nem referência de como seria um evento literário organizado todo no formato online. Creio que cumprimos com a nossa missão, de não deixar que o evento não fosse realizado”, comenta o secretário de Cultura Francisco Pinheiro.

                Neste ano, o palco do teatro Callil Hadad foi o grande cenário para a FLIM. De lá, os mediadores receberam os convidados para os bate-papos, que falavam a partir de suas residências. Além das tradicionais mesas-redondas, uma média de três ao dia, a programação contou com lançamentos de livros, contações de histórias e espetáculos musicais e teatrais.

            Ainda que de modo remoto, a programação paralela, a exemplo do estande do Coletivo Palavrão, também marcou presença nesta edição da FLIM. Nesse sentido, o Secretário de Cultura do município pontua: “A questão do mercado livreiro também foi uma experiência, a gente conseguiu convidar, e alguns livreiros aceitaram estar virtualmente presentes na FLIM.”

                Em 2020, os encontros nos corredores entre uma atividade e outra e as calorosas filas para ter os livros autografados e tirar fotos com os escritores deram lugar aos chats do youtube e aos posts nas redes sociais. “A gente espera que essa tenha sido a primeira e única FLiM totalmente virtual. Nós acreditamos que algumas coisas vão estar integradas nas próximas edições, algumas ferramentas e modelos, mas a gente anseia pela volta da FLIM presencial, com estrutura, isso pra nós é muito importante” continua Pinheiro.

Muita literatura e reflexão 

             No dia 09, após uma contação de história da artista bonequeira Rô Fagundes, a mesa sobre literatura para crianças e adolescentes com a participação de Socorro Acioli, Flávia Lins e Silva e Celso Sisto e mediação de Dany Fran, marcou o primeiro bate-papo da festa. Após lançamentos literários, conversas e espetáculos, a mesa “Limite do tempo e da história”, com o cientista político e escritor Sérgio Abranches, sob mediação do jornalista Victor Simião, foi destaque na noite do primeiro dia do evento, que acabou com o show “Afro Futuro” da cantora Rúbia Divino.

               Na manhã da quarta-feira (10), o “Auditório Sertões” recebeu a escritora Eliane Potiguara e o vencedor do prêmio Jabuti, Itamar Vieira Júnior, que levou o primeiro lugar na categoria romance artístico com seu aclamado “Torto Arado”. Temas como literatura e política, movimentos sociais e ancestralidade foram abordados pelos escritores. À noite, a Flim recebeu o português José Luiz Peixoto. Mediada pelo escritor maringaense Luigi Ricciardi, a mesa intitulada “Os limites da produção literária em Língua Portuguesa para o mundo”, teve um número de acesso bastante significativo. “Por ser virtual, um evento às vezes começa com 50, 100 pessoas e rapidamente, passando alguns dias, o número triplica ou quadruplica, isso pra gente é muito bacana. Outra característica marcante é que nós tínhamos na maioria dos nossos eventos a presença de pessoas de fora de Maringá, inclusive pessoas de outros países assistindo. A FLIM conseguiu romper essas fronteiras e ir pra outras localidades.”, considerou o Secretário de Cultura. Na sequência, a escritora Aline Bei, premiada pelo seu romance o “Peso do Pássaro Morto”, conversou com a escritora Thays Pretti. Fãs de Clarice Lispector e inspiradas por seu centenário, comemorado nesta data, a força poética de ambas comoveu o público. As contações de História do dia ficaram por conta do artista Danilo Furlan e a última ação foi o show “Ser Brasileira”, de Ariadne Gomes.

                 A mesa “Literatura fora do eixo RJ SP”, com os escritores pé-vermelhos Oscar Nakassato e Marcos Peres, marcou o terceiro dia de festa e levou o público ao riso. Houve até uma espécie de acerto de contas sobre questões do passado. A proposta foi feita pela mediadora Maria Almeida. 

                 À noite, as intempéries do mundo virtual não impediram que a mesa com o escritor José Eduardo Agualusa acontecesse. Por meio de uma ligação de áudio, o angolano pôde participar da FLIM. “Tudo fluiu muito bem, parecia que estávamos em conversa, não era uma coisa puramente literária, de algum modo nos uniu. O problema de internet do Agualusa mostra a vivência dele em uma ilha. É tirar o autor do pedestal, e a FLIM mostrou esse lado humanizado dos autores, que também estão na pandemia e nos contaram sobre suas literaturas.” avalia Marcele Aires, professora de literatura na Universidade Estadual de Maringá. Para fechar a sexta-feira, aconteceu uma conversa sobre literatura, realidade e cansaço da ficção com o escritor Julián Fucks, vencedor do prêmio José Saramago, e o jornalista Victor Simião. 

              No final de semana (dois últimos dias da festa literária), entre contações de histórias, espetáculos e muitos lançamentos de livros, aconteceu, na tarde de sábado, o encontro dos clubes de leitura, que recebeu a escritora Natália Borges Polesso. À noite, a mediadora do Leia Mulheres Maringá, Estela Lacerda, conversou novamente com Natália. A escritora gaúcha, autora, entre outros, do livro “Amora”, agradeceu o convite para o evento e afirmou que tem um compromisso ético com a literatura. “Eu levanto bandeiras na minha literatura. Faço questão de colocar em cena personagens lésbicas”. O grupo palavra cantada e o escritor Ondjaki também participaram da festa no sábado, que acabou com show da cantora Céu.

         No domingo, após a mesa com o escritor portugu ês Afonso Cruz, a artista vária, Elisa Lucinda, chegou cantando Leci Brandão, falou sobre poesia, a importância da palavra e fechou com chave de ouro a programação da FLIM. A conversa foi mediada por Marivânia Conceição Araújo, professora do curso de Ciências Sociais da UEM. Todas as atividades podem ser facilmente encontradas no canal do youtube da Secretaria de Cultura de Maringá. 

A Festa não pode parar

             

            Dos mais de 20 escritores que passaram pela FLIM, muitos falaram sobre a importância de eventos literários e manifestaram desejo de participar da festa presencialmente. O Secretário de Cultura de Maringá, Francisco Pinheiro declara: “Tivemos uma programação diversa e pudemos discutir e ouvir pessoas de referência em tudo isso, seja no campo de gêneros literários, seja no campo da representatividade”. Com o que concorda a professora do DTL, Marcele Aires: “A FLIM está se superando a cada ano, e espero que isso não mude, é um projeto lindo com uma programação rica, plural, que não traz somente os autores canônicos, mas também quem está fora do eixo. Traz várias vozes, e acho que isso é uma característica da FLIM ter este perfil. Eu gosto disso, é uma miscelânia.” 

              Algumas leitoras de Maringá apelidaram a FLIM, carinhosamente, de “Natal Literário”. Por conta da pandemia, e apesar dos desafios, a festa, neste ano, aconteceu em dezembro. Portanto, teve Natal, a partilha da Ceia foi farta e os dias de muitos leitores foram iluminados pela faísca da literatura. Vacinados, esperamos que em 2021 possamos estar juntos, trocando autógrafos, cumprimentos e aproveitando tudo o que a festa proporciona.  

Um comentário sobre “FLIM 2020: desafiar é a palavra da vez

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