Foto-montagem: os autores

 

por Anna Larissa Rodrigues e Bruno Barra

 

          Arte é uma palavra que se origina do vocábulo latino ars e significa técnica ou habilidade. Mas o que é arte para você? O momento histórico em que estamos acontecendo – porque ele acontece em nós e nós acontecemos nele – nos permite dizer que a arte é uma chama que não se apaga e nos permite, mais do que apenas sobreviver, viver nesse momento de pandemia de Covid-19.

         Literatura, música, cinema, dança, teatro, fotografia ou um tour por museus online, a arte em suas mais diversas formas de expressão é fundamental para nossa existência. E neste momento de dor e tristeza, causadas pela pandemia, a arte é uma possibilidade de fôlego a mais no dia.  A arte nos possibilita visualizar a realidade de uma forma diferente, por um momento podemos nos transportar para um lugar com infinitas possibilidades e nos permite usar a criatividade. Ela alivia, por um tempo, a dor que assistimos nos noticiários. A nova realidade a qual tivemos que nos adaptar possibilitou uma maior democratização de acesso à arte, isto é, lugares, imagens e textos estão chegando remotamente onde antes não chegavam, mas infelizmente devemos apontar que muitos são privados desse privilégio.

          Ficar em casa fez muita gente reencontrar velhos amigos, cheios de histórias para contar, esquecidos nas prateleiras. “Muitos maringaenses que antes não tinham tempo para vir ao sebo estão descobrindo a riqueza que aqui existe, ouvimos muito de clientes que não imaginavam o que era um sebo, a surpresa que tiveram ao visitar os sebos da cidade. Além de que as plataformas de streaming ganharam muitos adeptos, ou seja, independentemente do formato, não conseguimos ficar sem arte”, destaca Robespierre Roque Tosatti, dono de sebo de Maringá.

       Algumas manifestações artísticas que, via de regra, eram aproveitadas presencialmente, tiveram que se adaptar ao contexto da quarentena e foram parar em telas de celulares e computadores. Museus ganharam muitos visitantes virtuais, que podem conhecer os espaços artísticos de outros continentes em 360°, como o Louvre, em Paris; o Metropolitan, em NY; e o MASP, em São Paulo. Uma das iniciativas de destaque é a do MASP, que semanalmente posta em sua rede social uma obra de arte, convidando a população em geral a fazer uma releitura da obra em sua casa e postá-la também. No fim da semana alguns desenhos são selecionados e repostados pelo MASP, que presenteia os autores das releituras com uma Amigo MASP, com entrada ilimitada no museu por um ano.

            É por isso que, se podemos tirar algo de bom desse período é, também, essa aproximação que aconteceu entre algumas instâncias da arte – e do saber – e as pessoas. Estão acontecendo muitos cursos que, não fosse o momento emergencial, e não on-line, não chegariam a tantas pessoas. Dentre eles, o ciclo de palestras Expressões artísticas e sociedade: diálogos, que aconteceu remotamente dentro da programação de atividades curriculares oferecida pelo curso de Letras da UEM. O ciclo, coordenado pelos Prof. Dr. Fabrício César de Aguiar e Prof. Dr. Diego Luiz Miiller Fascina, ambos do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias (DTL), trouxe discussões a respeito de literatura e sociedade, personagens, autores, arte enquanto imagem, fotografia, séries, músicas e formas de pensar e refletir o mundo. Ao final das palestras, no momento de abrir para perguntas, via-se que integravam a plateia pessoas de diversos estados do país, como PR, SP, RJ, MG, GO, PA, RN e RS, que, inclusive, elogiaram muito a iniciativa dessas discussões e reflexões sobre arte proposta pelos professores da UEM. Aí está a arte chegando em nossas casas das mais variadas formas. Fabrício Aguiar nos lembra do potencial da arte de ser refúgio para nos acalentar, abraçar e auxiliar a passarmos por momentos turbulentos como o que estamos vivendo agora. “A Arte, a meu ver, trata-se de uma das coisas mais sublimes do comportamento humano. Vejo-a como elemento vital, presente desde sempre em quaisquer que sejam as culturas e os povos no decorrer da nossa história, claro que muitas vezes ressignificada e com abordagens bastante distintas durante a trajetória humana”.

           Aguiar salienta, também, que a arte é espaço para os mais profundos sentimentos, desde angústias e medos à paixões e alegrias, “e, sendo assim, quem se nutre dessa fonte e com ela interage, sem dúvida, ressignifica sua existência, molda sua identidade, reflete sobre sua essência enquanto indivíduo, questiona os padrões sociais impostos, aguça a criticidade referente à compreensão das opressivas estruturas de poder e por aí vai… Não é à toa que em qualquer regime totalitário os artistas sejam sempre tidos como ‘personas non grata’. O potencial libertador da Arte é imenso.”, declara. Portanto, se algumas pessoas tinham dúvidas a respeito da importância da arte para nossa vida e nossa formação como sujeito, agora não dá para negar o quão fundamental ela é.  

           Neste momento de excepcionalidade, o Instagram e o YouTube passaram a ser palcos de muitas lives e festivais.  E artistas de todas as categorias estão se esforçando para manter suas rendas e garantir o acesso do público, ainda que de modo remoto, a suas produções artísticas. “Alguns artistas que são responsáveis pelas despesas de espaços culturais na cidade estão fazendo rifas e campanhas de financiamento coletivo, como, por exemplo, o Centro Cultural Sucena e também a Cia Pedras. Se é difícil para as pessoas que têm somente as despesas de casa, imagina quem tem despesas de um espaço cultural, que precisa pagar aluguel etc.” afirma Rachel Coelho, produtora cultural há alguns anos em Maringá.

            Ela relata, ainda, como está se sentindo neste momento singular. “Já passei por algumas fases desde que saiu o decreto que interrompeu as atividades artísticas e culturais e todas as outras, e fechou os espaços. A gente não imaginava que essa situação ia durar tanto tempo”.  

            Pensando na cena cultural local, “Em Maringá, a Prefeitura, por meio da secretaria de cultura, demorou um pouco pra tomar algumas medidas de socorro à classe artística e cultural”, afirma Rachel. Ela lembra que o conselho municipal de cultura fez pressão para que medidas fossem tomadas, uma vez que alguns artistas e produtores culturais estavam passando por dificuldades. Após 3 meses de isolamento social, a prefeitura lançou o edital “Mostra em casa com arte”, previsto para acontecer todo no formato online. Os trâmites para a realização das atividades já estão acontecendo. Foram muitos projetos contemplados (exibição de shows, espetáculos, cursos e oficinas), e até o momento, essa foi a única medida tomada pela prefeitura.

            Todos nós já sabemos que a economia é sempre o foco, às vezes mais do que a vida de muitos. A arte, então, fica não em segundo, mas em terceiro, quarto plano. No entanto, pensamos que isso tudo consegue virar fonte de inspiração para nossos artistas, e como nos apontou o professor Fabrício, ao passo que tudo isso acontece, “o teor de engajamento das obras tende a aumentar, uma vez que outras forças motrizes para temáticas das expressões artísticas serão a revolta e a indignação referentes  às atitudes de descaso e irresponsabilidade com que muitas lideranças políticas e chefes de Estado tem tomado mundo afora. Ciente disso, tais posturas não passarão despercebidas aos olhos dos artistas, que são, via de regra, sempre muito sensíveis ao comportamento da sociedade e suas mazelas.”.

           Recentemente, foi anunciado que alguns eventos tradicionais da cidade, como o Festival de Teatro de Bonecos (Festebon), Semana do Hip-Hop, Festa Literária Internacional de Maringá (Flim) e o Festival Afrobrasileiro de Maringá acontecerão de forma remota. Além desses eventos financiados pelo poder público, o já tradicional “Só em cena” – mostra de solos e monólogos, acontecerá, também, de modo remoto. O evento é organizado pela 2 Coelhos comunicação e cultura e está com financiamento coletivo aberto.

           “Ultimamente, tivemos uma ótima gestão para a cultura na nossa cidade, mas como estamos com os espaços fechados e impossibilitados de trabalhar, têm acontecido poucas ações nessa área, e todas de modo independente, nem sempre resultando em dinheiro para os artistas e produtores”, pontua Rachel.

           A Maringá Rede – rede de apoio aos trabalhadores das artes de Maringá – foi criada logo que saiu o primeiro decreto que fechava tudo. Foi um grupo pequeno de artistas e produtores culturais que se reuniu para criar essa base de apoio a fim de promover ações de captação de recursos para ajudar artistas e produtores culturais em dificuldade. Rachel ainda complementa: “Desde então, já fizemos uma série de ações como venda de rifas, pizzas e livros. E temos funcionado muito bem, apoiamos mais de 50 artistas e produtores culturais da cidade, inclusive espaços. Existem mais espaços na cidade do que a gente pode imaginar”

           Por fim, mais uma vez com a fala de Fabrício Aguiar: “É fato que, seja em momentos mais tranquilos, seja em momentos mais tensos, seja na interação presencial ou de forma remota, a Arte sempre atua como uma interessante aliada. Como bem observado pelo poeta Ferreira Gullar, ‘a arte existe porque a vida não basta’.”.

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