por Felipi Yamabe e Mariana Brito

 

          A palestra “Literatura Surda” foi ministrada pelo Prof. Dr. Cláudio Mourão (Cacau), na manhã desta quarta-feira (6) no auditório Capitu, da Festa Literária Internacional de Maringá. A palestra aconteceu totalmente na língua de sinais – língua materna do palestrante Cacau que é, inclusive, autor de livros – e contou com dois intérpretes, Francielle Lopes e Bruno Lins, para um público composto majoritariamente pela comunidade surda. Segundo o professor, a literatura surda pode acontecer em livros, vídeos e formas presenciais. Existem os estudos surdos, os estudos culturais e a língua de sinais. Dessa mistura, surge a literatura surda. Não tem como separar, de forma que está tudo conectado. “A literatura surda me permite respirar, porque se eu não tivesse literatura, eu não viveria. Eu preciso da literatura surda pra continuar vivendo e sinalizando”, explicou o professor.

           O Prof. Cláudio fez uma contextualização sobre o surgimento da literatura, explicando que as histórias antigamente eram passadas de geração em geração, contadas oralmente, quando ainda não havia escrita. Assim passavam pela memória auditiva. Antigamente também tinha a língua de sinais, passando pela memória e pelos sinais, mas em algumas épocas ela fora proibida. Hoje em dia o registro da língua é muito melhor com a tecnologia.

            De acordo com palestrante, há, na literatura surda, a tradução, que transporta uma mídia para outra mais acessível; a adaptação, que altera uma história para compor personagens com características que as pessoas surdas poderão se identificar; e a criação de literatura destinada à comunidade surda. Cláudio mostrou exemplos de adaptação de Cinderela para a cultura surda. Os personagens são surdos. Cinderela perde a luva nessa versão ao invés dos sapatos, assim são valorizadas as mãos que os surdos usam para se comunicar, enriquecendo a cultura surda. O exemplo de criação de literatura surda foi “Casal Feliz” de Cleber Couto, um livro com 36 páginas e nenhuma palavra.

            Outra questão levantada foi a da literatura sob perspectiva médica sobre surdos, que se trata de uma visão clínica, que não é literatura surda, mas uma literatura que trata da saúde, das necessidades de ouvir, da correção que não valoriza o ser surdo, a língua de sinais, a cultura surda, mas os trata como se fossem “coitadinhos” que precisam se curar. Para a valorização da literatura surda, as pessoas precisam perceber que eles são normais como qualquer outro e que não há necessidade de sentir pena.

            A literatura e a língua são meios de comunicação, interação. A língua de sinais tem tudo o que a língua portuguesa tem, como gramática, por exemplo. Língua e cultura caminham lado a lado. Os surdos têm piadas, poesias que podem não fazer sentido para os ouvintes, assim como o oposto pode ocorrer, pois são diferentes as recepções. É preciso propagar o orgulho surdo de ser, a cultura surda, para que haja um fortalecimento da identidade surda. Hoje no Brasil existem 23 artistas surdos. O palestrante contou sua experiência no Festival Francês de livro de cultura surda, com teatro, poesia, contação de histórias, com um público de 20.000 pessoas. É um evento que ajuda na valorização da língua de sinais e da literatura surda.

           Para finalizar, Cláudio compartilhou o Projeto “Arte de Sinalizar”, que tem como objetivo promover encontros da comunidade surda numa forma de divulgar as manifestações da cultura surda, inclusive dentro da literatura. São organizados sarais em línguas de sinais que acontecem em todo o Brasil em que se discute sobre inclusão, sobre ouvintes, para que todos tenham essa experiência, essa vivência cultural. “Se não há arte, se não há língua de sinais, não há vida”, expressou Cláudio. A literatura surda é necessária, para motivar as crianças, transmitir essa arte para elas, para que tenham orgulho de sua língua, orgulho de sua cultura.

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