por Laura Galuch e Mariana Brito

 

          A procura dos estudantes de graduação por uma formação acadêmica mais prática, ou seja, aprofundada e pautada na concretude da realidade de atuação profissional, bem como a experiência e a preparação exigidas pelo mercado de trabalho são as principais motivações para que esses futuros profissionais se engajem na busca por conhecimento prático, por capacitação, por autonomia e por experiência em suas respectivas áreas desde os primeiros contatos com a universidade. Esse ensejo parte de uma visão cuja perspectiva é o desempenho desses indivíduos frente aos desafios da profissão, a fim de uma boa colocação no mercado de trabalho, bem como de uma práxis de excelência. Nessa concepção de desenvolvimento de competências, surgem as Empresas Juniores.

           Empresa Júnior (EJ) é uma associação sem fins lucrativos formada e administrada por estudantes de um curso superior que executam projetos para micro e pequenas empresas. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as EJs fomentam o aprendizado prático do estudante em sua área de atuação, aproximam-no do mercado de trabalho, proporcionam uma gestão autônoma diante das instituições de ensino superior (IES) e demais entidades acadêmicas e permitem que os alunos elaborem projetos de consultoria em sua área de atuação.

          As primeiras EJs nasceram na França, em 1967, por iniciativa dos alunos franceses da L’École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales (Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais – ESSEC), que se preocuparam com metodologias mais próximas à real prática profissional. De acordo com o site da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em 1988, surgiram as primeiras empresas juniores no Brasil: Poli Júnior, UFBA Jr. e a Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas (EJFGV).

           Desde a implementação das primeiras EJs, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) se constituiu no país, difundindo e encorajando o empreendedorismo dos jovens em uma formação mais sólida e ativa. Esse movimento é composto pelas diferentes EJs, pelos núcleos das Universidades, pelas Federações dos Estados e pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores ‒ Brasil Júnior (BJ). Com a união entre essas entidades, forma-se uma rede que permite um suporte potencializado às EJs filiadas, as quais recebem mais produtos, participam de mais eventos e possuem oportunidades exclusivas, ou seja, há uma maior integração entre o mundo empresarial jovem.

          A BJ foi criada em 2003 e é a instância nacional que representa as EJs brasileiras. Seu objetivo é apresentar propostas de diretrizes nacionais para a regulamentação das atividades dessas empresas, além de promover a integração dos empresários juniores do país. Os dados da Confederação ‒ os quais são encontrados em seu site ‒ apontam que, atualmente, há mais de 600 empresas juniores no Brasil, mais de 25 mil empresários juniores, 25 federações e mais de 11 mil projetos elaborados por ano. Ressalta-se que esse número possa ser ainda maior porque há empresas que ainda não são nucleadas, federadas e, consequentemente confederadas, ou seja, não estão cadastradas na BJ.

             A Universidade Estadual de Maringá (UEM) reconhece 23 Empresas Juniores ligadas à instituição: Adecon Consulturia – Empresa Júnior de Administração, Economia e Contabilidade; Agrojunior Consultoria – Empresa Júnior de Agronomia; Consultoria Agropecuária Junior (CAJ)  – Empresa Júnior de Agronomia (Umuarama); Congeo Jr. – Empresa Júnior de Geografia; Conseq – Empresa Júnior de Engenharia Química; Conset – Empresa Júnior de Secretariado Executivo Trilíngue e Letras; Criative Jr. – Empresa Júnior de Comunicação e Multimeios; Dinâmica Consultoria – Empresa Júnior de Engenharia de Produção; Ecoalize – Empresa Júnior de Ciências Biológicas; Empea – Empresa Júnior de Engenharia de Alimentos; Empec – Empresa Júnior de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo; Estats Consultoria – Empresa Júnior de Estatística; Inovatech – Empresa Júnior de Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica; Gênese Biotec Jr. – Empresa Júnior de Biotecnologia; Parthenon – Empresa Júnior de Engenharia Civil (Umuarama); Periódyca – Empresa Júnior de Química e Bioquímica; Preservare – Empresa Júnior de Engenharia Ambiental (Umuarama); Produtec – Empresa Júnior de Engenharia de Produção (Goioerê); Psique – Empresa Júnior de Psicologia; Softcom – Empresa Júnior de Ciência da Computação e Informática; Themis – Empresa Júnior de Direito; Teófilos – Empresa Júnior de Farmácia; Zoo Jr. – Empresa Júnior de Zootecnia. É possível obter informações sobre cada uma delas no site da Diretoria de Extensão da UEM (DEX).

             Conforme o Regulamento para as Empresas Juniores da Universidade Estadual de Maringá, as EJs têm os seguintes objetivos: proporcionar aos seus membros oportunidades de aplicação prática dos conhecimentos teóricos de sua formação profissional e aperfeiçoar seus processos de formação em nível superior; desenvolver competências de liderança e de trabalho em equipe; promover a valorização dos cursos de graduação junto à comunidade acadêmica e à sociedade por meio de projetos de impacto social, educacional, científico e tecnológico; estimular o espírito empreendedor, desenvolvendo atividades de consultoria e de assessoria com orientação de professores e de profissionais especializados; fortalecer a relação entre as IES e o meio empresarial, viabilizando o desenvolvimento econômico e social da comunidade. Vale ressaltar que os acadêmicos que integram essas empresas prestam trabalho voluntário, ou seja, sem remuneração. Toda a renda obtida com os serviços prestados e com os projetos é reinvestida nas atividades-fim da empresa.

            A Conset Consultoria – Empresa Júnior de Secretariado Executivo Trilíngue e de Letras – é gerida por estudantes da graduação que assumem papéis de assessores, de gerentes ou de diretores. O organograma da empresa é dividido em 6 áreas: presidência, comercial, gestão de pessoas, jurídico, financeiro e projetos. Ao entrar na EJ, o aluno participa como assessor em uma dessas áreas, podendo executar projetos para clientes, conforme a demanda, sempre de acordo com o cargo que ocupa. Leonardo Bordin, diretor-presidente da Conset, cargo de maior representatividade dessa EJ, é responsável por acompanhar as outras diretorias, por conduzir reuniões do grupo e por captar parceiros. “O aprendizado acontece em duas vias: por meio da realização dos serviços em que os alunos realizam traduções, revisões, planejamento e organização de eventos, gestões documentais e outros projetos da carta de serviços; e por meio da vivência empresarial em que o aluno desenvolve as atividades dentro da empresa conforme o seu cargo, como negociações, captação de clientes, gerenciamento de projetos, rotinas financeiras, processos seletivos etc.”, explica Bordin.

          Segundo ele, a EJ não é somente um espaço de desenvolvimento de habilidades das futuras profissões: “quando estamos inseridos na EJ, percebemos que nos desenvolvemos muito além disso. O empreendedorismo não é fomentado em nossas graduações e, em nossa realidade de empresários juniores, nos tornamos empreendedores. Assim, além de nos desenvolvermos no âmbito das nossas profissões, vamos muito além do que a graduação nos ensina, agregando ao nosso currículo experiências em ferramentas de gestão, liderança de equipes, estratégias de vendas, comunicação e pensamento empreendedor”, enfatiza o diretor.

            Os serviços prestados pela Conset são assessoramentos linguísticos, gestão documental e consultoria em eventos. “Este ano, enfrentamos o desafio de inovar essa carta de serviços e já vislumbramos novos mares a serem desbravados. Pensamos em focar em um nicho de mercado específico: o dos vestibulandos. Desenvolveremos treinamentos e capacitações voltados para esse público. E, alinhado a isso, queremos focar também em profissionais liberais e oferecer para eles o serviço de secretaria remota”, comenta o presidente.

             Além das empresas citadas, há outras EJs na UEM; algumas ainda não são nucleadas e/ou federadas e outras estão em processo de associação a alguma entidade maior, ou seja, de nucleação e/ou de federalização. A Tática Consultoria, Empresa Júnior de Ciências Econômicas, é uma delas. Fundada em 2015, desenvolve projetos na área de economia. De acordo com Bruno Piedade Damasceno, vice-presidente dessa EJ, “na empresa, os estudantes têm a oportunidade de terem o primeiro contato com a comunidade em sua atuação profissional“. Em relação à federação, a Tática está em processo de seleção: “a federação é importante, porque, dessa forma, um núcleo maior pode auxiliar a nossa EJ. Além disso, temos maior contato com outras empresas, ou seja, há uma maior relação entre os membros”, comenta o integrante.

              De maneira geral, os benefícios de envolvimento com um projeto de extensão como esse impactam, significativamente, toda a vivência acadêmica. “A partir da EJ, fazemos novas amigos, entramos em contato com a comunidade externa. É uma relação muito importante”, afirma Damasceno. Além disso, os impactos são notórios para os acadêmicos que se relacionam com uma realidade empresarial mais abrangente, o que permite um desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico; para os docentes que orientam esses projetos; para as IES que têm retorno de imagem e de atração de novas parcerias; para as empresas que obtém trabalhos de alta qualidade, garantidos pela orientação docente, por um baixo custo de investimento, uma vez que o objetivo maior das EJs não é o lucro. “Entregamos resultados à sociedade por meio da prestação de serviços a valores mais acessíveis e da formação de profissionais comprometidos e capazes de transformar o Brasil”, conclui Bordin.

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