por Tayana Almeida e Tiago Guimarães

        Durante o 4º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários (CIELLI), ocorrido em junho, um fato inusitado chamou a atenção de muitos participantes do evento que passavam pelo G-34, principal local do evento. Devido ao clima frio, muitos morcegos se abrigaram no interior do bloco, formando agrupamentos em torno das lâmpadas e dos dispositivos de wireless. Ao perceberem a presença dos mamíferos e, também, lembrando da grande movimentação de pessoas nos dias de evento, a comissão organizadora do CIELLI tomou a iniciativa de possibilitar um ambiente agradável aos morcegos e às pessoas que circulavam no local.

         Para tal ação, juntamente com o departamento de Biologia, mais especificamente com a colaboração do professor doutor Henrique Ortêncio Filho, foi montado no bloco G-34 um banner educativo, visando informar sobre a espécie que escolheu o bloco como abrigo e outras diversas informações sobre o comportamento dos morcegos.

         Quando se trata de animais, a UEM possui diversos projetos como, por exemplo, esse, que visa estudar e preservar as espécies de morcego que habitam o campus e outros espaços da cidade. Outro projeto relevante é o intitulado “Frida – Uma Vida animal na Academia”, que tem por objetivo dar suporte aos cães que circulam no campus da UEM, em Maringá.

Os semeadores na noite

         Segundo Henrique Ortêncio Filho, existem diversas espécies de morcego que habitam o campus da Universidade. Essas espécies são: Artibeus lituratus, Carollia perspicillata, Sturnira lilium, Platyrrhinus lineatus. Os hábitos alimentares desses morcegos são de predominância frugífera, embora eles possam se alimentar de insetos, folhas ou néctar.

            Esses mamíferos são conhecidos como semeadores da noite. Tal alcunha se dá pelo processo noturno de dispersão de sementes realizadas pelos morcegos. A dispersão acontece, como explica o professor Henrique, quando os morcegos mudam de lugar para se alimentar. Segundo Henrique, essa mudança de local acontece para que se possa evitar algum tipo de comportamento predatório. Após a ingestão das sementes, essas pelo trato intestinal do morcego, sofrendo a ação dos ácidos digestórios. Esse processo permite à semente uma maior facilidade de germinação. Como, geralmente, os morcegos defecam em pleno voo, essas sementes são jogadas no solo. Logo, esses animais possuem um papel importante na manutenção e preservação ambiental. Em tempos de grande desmatamento e redução das áreas verdes, o morcego se torna um dos principais responsáveis pelo reflorestamento de diversas áreas.

           Para se ter uma ideia da variedade de morcegos, no mundo já foram descobertas mais de 1300 espécies diferentes; no Brasil mais de 170; no estado do Paraná mais de 70; na cidade de Maringá, foram encontradas mais de 15 espécies; e no campus na UEM, as quatro espécies já citadas. Os hábitos alimentares das mais de 1300 espécies são muito variados, ou seja, existem morcegos que se alimentam de insetos, uma grande quantidade que se alimenta de frutos, néctar e pólen. Alguns também se alimentam de carne, segundo o professor Henrique, roedores, pequenos répteis, pequenos mamíferos, inclusive morcegos. Existem morcegos especialistas em predar peixes. Inclusive, essa espécie existe no parque no Ingá, destaca o professor. E, por fim, aqueles que se alimentam de sangue, sendo que existem apenas três espécies com essa característica no mundo, e as três habitam nosso país.

            “Normalmente as pessoas pensam: então temos esse vilão perto da gente? Não, morcego hematófago não é vilão. Se pensarmos em termos ambientais, em termos evolutivos, essa é uma espécie muito importante, pois ela ajuda no controle de população dessas espécies, por exemplo, animais como a capivara, que poderia sofrer um processo de superpopulação. Contudo, quando se trata de questões relacionadas à saúde, em ambiente urbano ou rural, as espécies hematófagas demandam cuidados e estudos, pois podem causar doenças, caso estejam contaminadas” esclarece o professor Henrique.

            Sobre episódio ocorrido no bloco de Letras, o professor explica que a espécie que busca abrigo na UEM é a Platyrrhinus lineatus, espécie frugívora. É um animal de pequeno porte que possui a tendência de formar grupos, no qual um macho se agrupa com algumas fêmeas e copula com elas. No período reprodutivo, em geral, tem um filhote.

            A busca de abrigo dessa espécie de morcego nos blocos da universidade não oferece risco aos seus frequentadores, pois se trata de um local aberto e ventilado, e morcegos estão ali somente em busca de segurança. Trata-se de uma espécie urbana que tem o hábito de se abrigar em marquises e também no interior de edificações, como é o caso relatado no campus. Dessa forma, o professor tranquiliza a comunidade acadêmica, explicando que não existem riscos de ataques, por exemplo, na permanência dos morcegos nos blocos da universidade, e que a convivência com os animais pode ser amigável, duradoura e, também enriquecedora.

            Para as pessoas que quiserem aprender mais sobre os morcegos e suas especificidades, existe um evento chamado “Noite dos Morcegos”, no qual é realizado um passeio noturno no Parque do Ingá, que tem como objetivo conhecer as espécies que ali habitam, seus hábitos e contribuições para a natureza. O professor informa que a próxima expedição já tem data definida e será realizada no dia 03 de outubro. As inscrições serão abertas a partir do dia 15 de setembro. Para mais informações, basta acessar a página do facebook intitulada GEEMEA. Nessa página poderão ser encontrados os links para inscrição e, também, diversas informações sobre o trabalho do grupo de estudo.

O projeto FRIDA

          A Universidade Estadual de Maringá também conta com um projeto que atende cerca de 10 cães residentes do campus e outros casos de animais perdidos ou em situação de abandono. Negavam, como gosta de ser chamada, é a responsável pela criação e execução do projeto Frida, em homenagem à cadela mais antiga da UEM. “Há mais de uma década lido voluntariamente com a presença desses animais na instituição. Um projeto de extensão visando à existência de cães no campus sempre foi um desejo meu”, conta.

          Com a campanha para uma nova gestão da UEM, Negavam passou a abordar os candidatos à reitoria da instituição, buscando diálogo que incluísse e considerasse a existência e presença destes animais no âmbito da universidade. “Sempre encontrei dificuldade em avançar com a proposta, haja vista a falta de interesse e discriminação ou ‘criminalização’ da presença dos cães no campus, algo que ainda não superamos”. Juntamente com o Prof. Ricardo Vasconcelos, da Zootecnia, que havia sido convocado para integrar o Comitê Ambiental, Negavam viu a oportunidade de Frida – Uma Vida animal na Academia. Esta ação prima pelos cuidados dos cães residentes como também daqueles abandonados em seu território ou outras regiões da cidade e que, naturalmente, se encaminham para a instituição, atraídos pelo ambiente natural que lhes propicia uma melhor condição de existência e sobrevivência.

           O projeto desenvolve todas as atividades de cuidados higiênico-sanitários e saúde dos cães residentes da UEM, doações de novos animais abandonados, divulgação das ações do projeto. “Nós visamos à educação da comunidade universitária interna e externa contra o abandono de animais e promoção de ações sociais e educativas vinculadas ao projeto que sensibilizem a comunidade e agentes universitários acerca dos direitos, bem-estar, proteção e posse responsável de animais”.

2 comentários sobre “Universidade, Animais, Convivência e Aprendizado

  1. Acho que é necessário comentar que o projeto Frida está atualmente vinculado ao Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias e que o professor Ricardo, do DZO, não é mais integrante do projeto. Além disso, que o tratamento de saúde dos cães, de seu bem estar e de sua alimentação não têm, atualmente, auxilio institucional, dependendo de campanhas e doações para arrecadação de fundos. Mais informações podem ser encontradas em: http://www.facebook.com/fridauem

  2. Desde o ano passado o Prof. Ricardo Vasconcelos, da Zootecnia, não participa do projeto. Atualmente, o Projeto Frida – uma Vida Animal na Academia, está sob a coordenação do Prof. Edson Romualdo do Departamento de Letras e mesmo que não haja qualquer fonte de recurso, continuamos atendendo nossos cães e aos demais que chegam a instituição, abandonados em boas ou más condições de saúde. Para atender nossas necessidades e despesas contamos com doações de ração, medicamentos e a colaboração de pessoas que se sensibilizam com a existências destes seres tão especiais. Para mais informações do projeto, dispomos de uma página no facebook que pode ser acessada no endereço: https://www.facebook.com/fridauem/.

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