por Anna Clara Gobbi e Íngrid Lívero

           Costumava-se ter a ideia de que a universidade seria o melhor meio para qualquer indivíduo que nela entrasse. Essa é uma concepção ainda em voga para muitos dos constituintes da comunidade acadêmica e, felizmente, a universidade parece ter aberto ainda mais suas portas para manter-se como caminho para um bom futuro por meio do que tem se chamado “internacionalização”.

            Criado pelo Governo Federal com parceria das universidades do país, o programa Idiomas sem Fronteiras, também conhecido como IsF, tem por objetivo capacitar em línguas estrangeiras os estudantes e docentes das instituições de ensino superior brasileiras. A iniciativa, que prioriza a formação de professores, já abriu (dos anos de 2013 a 2016) mais de um milhão de vagas. Com módulos online e/ou presenciais, alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e japonês são os idiomas ofertados pelo IsF.

          Com esse mesmo objetivo de internacionalizar a instituição, a UEM integrou o IsF em julho de 2017, o que lhe permitiu ser também um centro aplicador do exame TOEFL-ITP – o qual visa nivelar a proficiência dos candidatos no Quadro Comum Europeu. Além dos cursos voltados para a língua inglesa, o programa também oferece, na universidade, disciplinas voltadas para o aprendizado da Língua Portuguesa, como a matéria de Leitura e Produção de Textos Acadêmicos e Cultura Brasileira, visto que o programa propõe a troca de experiências linguísticas em diferentes idiomas, logo não só a língua inglesa para alunos brasileiros, mas também maior atenção para os alunos estrangeiros acadêmicos da UEM.

           Sobre isso, a professora Neiva Jung (UEM), coordenadora pedagógica da área de Língua Portuguesa no IsF da instituição, explicou que o público alvo das ofertas é a graduação e pós-graduação “estrangeira”, incluindo os professores, mas o programa já trabalha com a possibilidade de integrar estrangeiros da comunidade externa por meio da inserção dessas pessoas no sistema do IsF. Num âmbito mais pessoal, a professora afirma que “o objetivo que cumprimos até aqui foi ter pleiteado e conseguido também o português, considerando sua importância para a política de internacionalização da UEM e para a formação dos futuros professores de Língua Portuguesa”. Ela completa que a presença dos alunos estrangeiros se mostra de suma importância para o reconhecimento também da “diversidade linguística, cultural e epistemológica, para a produção acadêmica e para todos que aprendem muito em termos de culturas e produção de saberes”.

          Ao direcionar o foco para os atuantes efetivos de sala da aula do programa – de forma a explanar um pouco do funcionamento interno do IsF na UEM –,os professores bolsistas também se manifestaram quanto ao tipo de experiência vivenciada e atuação no IsF. Eles contam que o início do programa foi basicamente trabalhar com tentativas e erros, com ofertas de curso em apenas uma chamada e falta de conhecimento do público que receberiam. Por isso, viram ser necessário o trabalho de divulgação e preparação de cursos de interesse à comunidade acadêmica, e ainda compartilharam que isso foi feito durante as férias. “Como resultado, na primeira chamada que ofertamos esse ano, atendemos bem mais alunos. Somos nós, os professores, que fazemos a divulgação, organizamos os materiais e lidamos com alguns aspectos administrativos. Estar envolvido no programa dá uma experiência valorosa e bastante global quanto ao funcionamento de um instituto de idiomas”, finalizam.

          No que diz respeito ao subsídio governamental, é possível encontrar um detalhamento de quais implementações e competências são designadas à Capes em sua página online, dentre as quais são previstas as bolsas de auxílio aos professores, a delimitação do perfil desses bolsistas e sua formação continuada para atuação com diferentes idiomas. Quando questionados sobre como essas implementações têm sido ofertadas na UEM, os professores afirmaram que passaram por treinamentos e discussões com as coordenadoras para estabelecer os objetivos do Núcleo de Línguas (NucLi)IsF/UEM, além de terem reuniões semanais nas quais podem compartilhar situações que sejam novidade em suas práticas. Também compartilharam que existe uma plataforma do programa que possibilita o contato com outros atuantes de outros NucLi nacionais, além de poderem ter contato com pesquisas de outras universidades; é por meio dessa plataforma que os professores têm acesso a “webinars a respeito de temas diversos, todos tangentes ao nosso trabalho como professores do Idiomas sem Fronteiras”. Em uma visão geral, eles afirmam que todo esse subsídio lhes dá “segurança para desenvolver [a] função como professores bolsistas”.

          Diante das experiências das mais diversificadas relatadas pelos participantes do programa, além do retorno positivo nos poucos meses de vigência no contexto da UEM, percebe-se o objetivo inicial do IsF como um todo de internacionalização sendo, aos poucos, efetivado. Tanto a professora coordenadora Neiva Jung, como os professores bolsistas consideraram alguns objetivos como já cumpridos nos poucos meses de atuação, a exemplo, a aplicação de mais de 300 TOEFLs desde a implementação do programa na universidade e o aumento na procura dos cursos presenciais ofertados.

         A prática de internacionalização, ou mesmo seu conceito, pode ser aplicada em diversos contextos: trocas econômicas, políticas, culturais, das quais resultam relações. Seria possível dizer que tal conceito ainda é recente ao contexto universitário, não só pela maior visibilidade do projeto Idiomas sem Fronteiras, mas também pela maior procura e desejo da comunidade acadêmica dos últimos tempos de alcançar saberes e experiências que estão além dos limites do país. Conforme comentado pela aluna Laura Battistam, do 4º ano do curso de Letras da UEM e participante do Isf, a procura maior se dá por alunos da pós-graduação para melhorarem a proficiência na língua inglesa, mas estudantes da graduação e até mesmo docentes também estão presentes. “É muito interessante e importante a troca de conhecimentos (não apenas linguísticos), porque as turmas costumam ser muito heterogêneas, fazendo com que as aulas sejam muito produtivas” Laura ressalta que “no decorrer do curso é possível ver melhora da escrita e também a evolução dos alunos até pela perda da timidez quando há necessidade de se manifestarem em língua inglesa durante a aula”.

          Um programa que oferece aulas gratuitas de línguas a fim de que seus participantes possam experimentar tais saberes – e mesmo praticarem o ato de ensinar toda linguagem própria de outro lugar do mundo – é uma das portas abertas no contexto da universidade que deve ser internacionalizada, de forma que cumpra seu objetivo de tornar reais as relações com um “vizinho” de outro país e suas produções culturais e linguísticas.

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