por Fernanda Martins e Karina Soares

         Um grupo de estudantes de diferentes cursos da Universidade Estadual de Maringá se reúnem semanalmente para discutir, aprender e ensinar tecnologia em seus diversos segmentos. O Hackerspace Maringá (HS) tem suas reuniões dentro da universidade e atrai não somente os alunos da instituição como também o público externo. Mas qual a sua relação com os estudantes de Letras? Pois bem, são muitas.

       Entre os conhecimentos científicos e técnicos para a construção de grandes (ou pequenos) projetos, a sustentação para seus feitos dá-se por um conjunto de regras, isto é, os algoritmos; um dos fortes instrumentos para a implementação de diversas propostas, tal como o meio virtual no qual você está lendo este texto.

            De modo análogo, as linguagens naturais como a qual estamos nos comunicando, constituem-se por um conjunto de regras sintáticas e semânticas para a criação de um ato comunicativo, como também espera-se o mesmo para as linguagens não-naturais, o que as interligam em uma comparação sistemática dos preceitos que as norteiam.

           Embora encontremos poemas, aforismos e ensaios sobre as linguagens naturais, como o poema de Olavo Bilac, “Língua Portuguesa”, não nos espantam em um primeiro momento por conta dos aspectos artísticos que a língua(gem) transpassa em diferentes campos semânticos e pragmáticos, mas há de se saber que tais elementos também podem ser concedida em uma linguagem não-natural. Uma exemplificação de como é aplicado em um campo filosófico-artístico, a linguagem não-natural Python dispõe de um pequeno texto escrito por Tim Peters (1999).

Zen of Python

Bonito é melhor que feio.

Explícito é melhor que implícito.

Simples é melhor que complexo.

Complexo é melhor que complicado.

Plano é melhor que aninhado.

Esparso é melhor que denso.

Legibilidade conta.

        O paralelismo aqui proposto dá-se para exemplificar a multidisciplinariedade que a tecnologia pode acrescentar dialogando com diferentes áreas de maneira eficaz. Se dentro da UEM os blocos dessas diferentes áreas se separam geograficamente, no ensino e aprendizagem elas podem se entrelaçar e se tornar uma grande ideia para um estudante de Letras que queira aprender um pouco mais sobre uma outra área. Para o presidente do Hackerspace Maringá, Caio Tonetti, esse espaço pode ser aproveitado para se ter o contato com diferentes aspectos das linguagens, e aprender como esses são trabalhados no campo da tecnologia, podendo ser envolvidos desde análise de sentimentos a autorresumo  de textos. Sendo assim, segundo as palavras de Caio, o espaço oferecido permitiria que “a tecnologia interaja com a nossa linguagem do dia-a-dia, além de entender o impacto delas na vida das pessoas”.

         No entanto, saindo do campo de Letras, é relevante discutir a importância de como um laboratório livre pode ajudar um acadêmico ou um simples simpatizante do assunto. Laboratórios livres, como o Hackerspace (HS), são espaços em que há uma busca por conhecimento, no qual por meio da interação social, há uma produção/promoção de aprendizado, o qual, nas palavras no membro fundador do Hackerspace Jair Cartório, só é encontrado “na fronteira entre dois cursos ou marginalizado pela academia”. Para o fundador Guilherme Kenzo, o que torna atrativo a ideia de um espaço comunitário é a flexibilidade que os alunos têm para se dedicarem ao projeto que quiserem sem estarem em uma estrutura rígida e tradicional de ensino. Ademais, para ele também é uma grande oportunidade para todos os estudantes não apenas pelo espaço intelectual, como também para o acesso de ferramentas e aparelhos que não são acessíveis para todos e “combinado os esforços dos membros, é possível criar uma estrutura compartilhada, ampliando o acesso de todos a uma diversidade de recursos antes inacessíveis”.

        Com isso, percebemos uma intercomunicação entre diversas áreas, oportunizando cursos distintos a aplicar seus conhecimentos na medida em que novos são construídos, e assim, diminuindo as fronteiras, ou até mesmo barreiras, entre os cursos. Não seria possível a elaboração de recursos como o Google Translator ou a Siri, assistente pessoal inteligente da Apple, sem o árduo trabalho dos linguistas.

 

 

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