por Fernando Prezotto e Lucca Portolese

Por que ser professor? Aqueles que ousam entrar nesta profissão são frequentemente questionados quanto a isso mais cedo ou mais tarde. E, pensando bem, porque ser professor em um contexto de tanta desvalorização e dificuldade para se exercer a profissão de educador?

E não pára por aí. Os desafios de ser um professor não se limitam apenas em estar sempre atualizado em conteúdos, corrigir provas, lidar com alunos e seus problemas. É também lutar para ter uma valorização que ainda está longe de ser a ideal, é ter que trabalhar em vários períodos para poder ter um salário “decente”, tentar uma vida social adequada, e ter um reconhecimento mínimo do esforço necessário para enfrentar salas lotadas, e ainda ser responsável por garantir que todos os alunos tenham uma “educação” de qualidade.

Há também os obstáculos culturais que atribuem na desvalorização da profissão, pois, no senso comum, ser um professor “não dá dinheiro” nem prestígio e, muito menos, satisfação. Sob o olhar de muitas pessoas, ser professor é o mesmo que sentenciar a sua vida ao nada, se esquecendo que para que existam advogados ou médicos, é necessário que exista pelo menos um professor.

Tentaremos tratar de alguns dos desafios que o professor encontra, e que o futuro professor encontrará.

RESPONSABILIDADES NAS COSTAS

Começando no ensino infantil, os obstáculos enfrentados pelos pedagogos seriam os de conseguir a atenção dos jovens, e de criar atividades que, não apenas estimulem as suas mentes, mas também o gosto dos alunos por querer saber sempre mais, ao mesmo tempo desenvolvendo pensamento crítico, assim criando uma base forte para o cidadão que irá surgir. Afinal, a função da escola é, além do ensino de conteúdos, a formação de cidadãos. Muito se mostra que uma das melhores armas contra o preconceito e a desinformação é, justamente, o conhecimento e a informação.

Porém, atualmente, vemos uma exigência diferente. O pedagogo, neste caso, além de ensinar seus conteúdos, deve educar a pessoa que está na escola. Em outras palavras, ensinar a ir ao banheiro, a limpar-se, a comer, a abrir pacote de lanche, a jogar lixo no local destinado, a cuidar de seus pertences, a respeitar outras pessoas, a não atravessar a rua correndo, entre outras questões. Em uma situação como esta, acaba o professor por tomar para si responsabilidades que seriam da família e dos responsáveis legais pelo pequeno ser que vai (ou deveria ir) a escola para outros fins, como a socialização, o viver em sociedade, e o aprender conteúdos e desenvolver o pensamento crítico.

No ensino médio a coisa é pouco diferente. Além de todos os tópicos acima, há a preocupação de manter-se atualizado sobre tudo o que está acontecendo no mundo, de modo a preparar o jovem para se inserir na sociedade e para enfrentar desafios que futuros.

No ensino superior, espera-se que os cidadãos já estejam formados. E muito acreditam que, na universidade, os professores já não tem mais responsabilidade para com os alunos, e que não se preocupam mais. O senso comum diz que, na faculdade, o aluno realmente aprende a estudar e a se virar, porque o professor pouco se importa. Quem vive a realidade de sala de aula do ensino superior, sabe o quanto isso é diferente. Alguns professores realmente não se preocupam. Porém, a maioria é bastante diferente, está disponível e se mantém acessível para os alunos, e tem um comportamento profissional em sala de aula. E ainda lhes é cobrado que, muitas vezes, “engula sapos” de estudantes universitários que carregam, consigo, aquela antiga transferência que transforma seus professores em nada mais do que seus próprios pais. Não só no ensino superior, mas há, neste segmento, uma preocupação especial em prepará-los para o mercado de trabalho.

LUTANDO PELO NOSSO FUTURO

Nos últimos meses, pudemos acompanhar manifestações e paralisações de professores e estudantes em todo o país, por, entre outros motivos, protestar contra a PEC que congelaria o dinheiro investido tanto na educação quanto na saúde. Sem um viés político, e sim pelo suposto impacto social que poderá causar tal emenda, é interessante apontarmos que mesmo com divisões de opinião houve uma certa união estudantil nos espaços de aprendizado, já que de um modo ou de outro essa PEC afetaria diretamente os estudantes, e talvez por estarem se preparando para a realidade da escola, os alunos de licenciatura tiveram uma participação significativa nos atos pró-greve.

Ser um professor no Brasil é encarar a realidade que muitas vezes não receberá o mérito devido, mas isto não quer dizer que seja uma profissão pior que as outras, pois o ato de ensinar exerce um papel importante na nossa sociedade, e é por causa dos professores que estamos sempre progredindo na história.

 

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