por Flávia Bissi e Oscar Rodrigues

No atual cenário político brasileiro, O Consoante dá uma atenção especial para a conjuntura educacional, buscando observar a realidade da sala de aula sob a ótica de um professor. Afinal, nada melhor do que um profissional atuante na área há mais de 10 anos, tanto em escolas públicas como particulares, para nos dizer mais sobre as atuais propostas de reformulação de ensino médio. Para o Professor Rafael Carlos dos Santos “Há, sim, uma necessidade de reforma do ensino médio. Porém com algumas ressalvas”.

O Consoante: Professor, qual a sua avaliação a respeito da proposta do governo de reformulação do ensino médio?

Rafael: Em um primeiro momento, quando me deparei com a pergunta, eu procurei avaliar que há sim uma necessidade de reforma do ensino médio. É necessário haver mudanças na educação básica, mas eu penso que neste momento, diante a toda essa crise econômica e transição política, imagino que não seria viável. Por mais que tal reforma seja importante, sabemos que ela demandará custos, mesmo o ministro da educação Mendonça Filho tendo dito nas mídias que não terá aumento dos custos, mas sabemos que eles existirão sim. Portanto, não avalio como ponto positivo neste momento. A educação precisa de mudanças, precisa de reformas, mas ela é necessária quando vem beneficiar o povo, principalmente os alunos. E também precisa ser passada de maneira muito clara para a população em geral e não “bater o martelo e pronto!”. No momento certo, no momento ideal a reforma é viável, mas não agora.

OC: No seu ponto de vista, você sente no dia a dia que os alunos conseguiriam frequentar o ensino médio em período integral?

Rafael: Eu vou falar pela realidade que nós vivenciamos hoje. No caso das escolas em que eu atuo, para a maioria, acredito que não, tendo em vista que o público vem de uma região mais simples da cidade, que tem a necessidade de trabalhar, por isso penso que a grande maioria não conseguiria ser encaixado nesse novo modelo, nessa reforma do ensino médio. Eu falo da minha realidade hoje em relação ao ensino médio, já que muitos alunos têm de ajudar em casa, para arcar com suas despesas, suas necessidades. Devido a esse fato, acredito que nesse momento eles não conseguiriam atender essa demanda.

OC: Você acha que a falta de interação dos pais na vida escolar do filho faz com que o aluno se dedique menos aos estudos?

Rafael: Em uma sociedade onde todo mundo precisa trabalhar isso é extremamente difícil, mas a interação dos pais para o crescimento educacional e profissional do filho é fundamental. Eu penso que encontrar um tempo para essa troca de informação mesmo diante da dificuldade é indispensável, além disso, eu vivi essa realidade de viver em uma família com muita dificuldade de encontrar um tempo para dialogar sobre o período da escola, o que vem acontecendo, o que há de necessário aprender ainda. Claro que a gente sabe que muitos pais não procuram ou não fazem isso diante da falta de tempo, entretanto é necessário que os pais encontrem um tempinho para saber da vida escolar de seus filhos.

OC: Como avalia o ensino técnico-profissionalizante? Atende a uma vontade do jovem de buscar um ensino superior?

Rafael: Retomando a situação diante da realidade que eu conheço da sala de aula, acredito que atenderia sim, tendo em vista que muitos ainda não têm o desejo, a vontade ou não tem a possibilidade de fazer um ensino superior. No meu ponto de vista, o ensino técnico ajudaria sim a qualificar esses jovens a escolher uma profissão, a seguir uma área que muitos não pensam, geralmente, por motivos pessoais. É uma falta de vontade que parte deles mesmos. Além do mais, não é por falta de incentivo do professor. Então eu acredito que o nível médio técnico ajudaria sim muitos alunos a seguirem uma determinada área. Os próprios alunos relatam em sala de aula, que não tem vontade de ensino superior, mas que seguiriam um ensino técnico.

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