Por Íngrid Lívero e Oscar Ribeiro

Não é nenhuma novidade que uma das maneiras de mudar o mundo, para melhor, é por meio de uma educação de qualidade quanto aos conteúdos ministrados em cada sala de aula. Tivemos, com o passar dos anos, uma melhora significativa nessa área pelo mundo todo. No Brasil, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura) apontou que houve uma melhora significava nas últimas duas décadas, tais como: maior acesso às informações, implementação de políticas públicas voltadas a essa área, redução na taxa de analfabetismo, dentre outros fatores que contribuem para tal conjuntura. Mas será que ainda não existem déficits nesse quadro? Será que existem modelos de matérias, atividades que despertem interesse e estimulem a criatividade dos jovens? A música, por si só, já se constitui um ótimo exemplo de implementação da educação básica.
Pedro Paulo Salles, professor e pesquisador de educação musical da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Revista Escola Pública, diz acreditar que a música é desvalorizada por ser entendida como mero entretenimento, e ainda em discussões para formulação de novas diretrizes educacionais, o Conselho Nacional de Educação (CNE) relata que a primeira dificuldade diante do ensino musical é a compreensão sobre sua importância e a carência de docentes especializados.
O modelo educacional básico no Brasil prevê que seja ensinado aos alunos: “processos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” (Art. 1o – LEI no 9.394 de 20 de Dezembro de 1996). Se o ensino de música nas escolas da rede básica de ensino pode ser entendido como “manifestações culturais”, ainda há muito a se fazer para que se atenda o que a lei prevê.
Como uma forma de trazer a tona novamente essa educação tão importante que foi assimilada às outras linguagens artísticas e acabou por perder conteúdos importantes, em 2008, a Lei Federal nº 11.769 acrescentou o caráter obrigatório do ensino de conteúdos de música nas escolas. Aqui já se vê um ressarcimento do tal déficit de modelos estimulantes de desenvolvimento cognitivo mencionado, mas é claro que muitas ainda são as dificuldades para se implantar um ensino musical que atenda em totalidade a formação satisfatória do aluno. A falta de educadores aptos a ministrarem aulas musicais, faz com que tal lei não se cumpra.
Em São Paulo, a Orquestra Sinfônica do Estado (Osesp) já começou a oferecer uma opção de capacitação de docentes com o sem conhecimentos musicais, com um curso intitulado “Conheça a Orquestra”, que trabalha música clássica e outros ritmos, ainda que não chegue à execução, mas já aprofunda a teoria musical e algo sobre os instrumentos.
Com o intuito de fomentar a oferta de cursos de formação nas universidades para os professores da educação básica, em exercício, da rede pública de ensino, foi lançado em 2009 o PARFOR – Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica. Esse programa é uma ação emergencial, realizada pelo Ministério da Educação (MEC) e está sendo implementado no Brasil a partir da colaboração entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), as Secretarias de Educação dos Estados e Municípios, e, as Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. Dos cursos PARFOR oferecidos no Brasil, 13 são em licenciatura em música. Sendo: 10 na modalidade 1ª Licenciatura e 3 na modalidade 2ª licenciatura, todos no Paraná, sendo um em Curitiba (UFPR), um em Londrina (UEL) e um em Maringá (UEM).
A UEM oferece o curso de música PARFOR na modalidade 2ª licenciatura e é específico para professores em exercício na Educação Básica, que possuem formação em outra área de conhecimento, mas que trabalham, ou desejam trabalhar, com música em sala de aula. Na UEM o curso foi implementado em 2011 e no momento está com a terceira turma em andamento.
A respeito desse programa a professora Andréia Pires Chinaglia de Oliveira do Departamento de Música da UEM diz que é de extrema validade e importância ações e estratégias de articulação entre a educação superior e a educação básica, como a que vem sendo desenvolvida no PARFOR música da UEM. “Nesse curso os professores em formação entendem a importância de ter uma formação que permita que os conteúdos musicais sejam transmitidos com mais segurança. Nem todos os professores em formação tiveram uma iniciação musical anterior ao curso. Por isso é necessário buscar estratégias para a melhora nas práticas instrumentais e da leitura musical assegurando a permanência dos licenciados e a formação adequada para o campo de trabalho” diz. Todas as atividades nas aulas práticas do curso já fazem uma relação de como pode ser a aplicação na sala de aula, a fim de que cada professor consiga realizá-la de acordo com suas limitações. Andréia ainda complementa que “dessa forma, as atividades e as práticas musicais se tornam significativas para eles porque levam para sala de aula, algo que aprenderam, entenderam e que sabem fazer bem”.
Podem ainda explodir perguntas e dúvidas – e trabalhos ou pesquisas sobre essas perguntas e dúvidas – de como atender a área musical e suas necessidades (como é a abordagem do ensino musical? Deve haver prova de música? Há um local apropriado com recursos para essa aula?). Ainda assim, é inegável e notável tanto a importância como os resultados positivos vindos da aplicação aprofundada de música na escola.
Villa-Lobos já defendia o canto como um poder de socialização, fazendo com que o indivíduo se liberte no momento que precisar da noção egoísta e da individualidade extrema. Então a pergunta remanescente é: podemos mudar o mundo musicalmente? Vários fatos, opiniões de especialistas e a própria realidade escolar na qual esse ensino já começa a ser efetivado prova que sim; a atividade coletiva que a música em várias ocasiões exige tem bastante visibilidade na comunidade escolar, além da possibilidade para muitos alunos de interiorização e descoberta de novas aptidões.
Esses motivos já justificam a necessidade de se tirar a educação musical da margem curricular a fim de que os alunos possam ter uma formação mais concisa e eficiente. Afinal, não se trata de formar músicos profissionais, mas sim de trazer esse mundo musicalmente lindo para dentro da escola.

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