por Nayhara Carvalho e Oscar Rodrigues

Cursar uma graduação em Letras nem sempre é uma tarefa fácil. Quando há a somatória da carreira – uma língua estrangeira – estudar se torna ainda mais difícil. Por uma carência na formação básica em uma língua dita de elite e difícil, a língua portuguesa expressa em gramáticas de cunho normativo ocasiona a uma vida acadêmica laboriosa. Não bastasse isso, o que vemos nas mídias é a degradação do professor, havendo até um desprezo por tal profissão, por diferentes motivos (políticos, sociais, econômicos etc.). No caso da língua estrangeira (LE), seu ensino nas escolas se torna, de certa forma, um reflexo da formação dos próprios professores, isto é, se temos um ensino de LE deficiente, tivemos então a formação de tais professores igualmente deficiente. Mas será que podemos (ou devemos) encontrar culpados por tal conjuntura educacional? Será que se pode atribuir falta de preparo e/ou de dedicação do profissional do magistério? Para iniciar uma investigação dos problemas e possíveis soluções, devemos então conhecer a formação em Letras, graduação ainda procurada, mas tão pouco prestigiada.
A maioria dos cursos de Letras do país oferece a habilitação dupla (sendo a língua inglesa a mais presente). As universidades públicas é que apresentam uma oferta maior, com cursos pautados nos antigos currículos mínimos. Outras IES oferecem também o francês, espanhol, alemão, entre outras línguas estrangeiras. Nessas formações encontramos uma carga horária maior, mas ainda baixa e inadequada para uma formação de professores de LE.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Letras, publicada pelo Ministério da Educação (MEC), os cursos de Letras visam (2001, p 30): “à formação de profissionais que demandem o domínio da língua estudada e suas culturas para atuar como professores, pesquisadores, críticos literários, tradutores, intérpretes, revisores de textos, roteiristas, secretários, assessores culturais, entre outras atividades”. Se compararmos as resoluções do MEC com a formação dos professores de LE, podemos notar algumas disparidades em relação ao que realmente é se encontra nas universidades. Os institutos de educação devem formar “professores com domínio na língua e suas culturas”. Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), por exemplo, verificamos certa defasagem em relação a essa formação, pois o ensino da cultura na língua francesa, para citar nossa habilitação, se torna responsabilidade do professor, sendo que este possui uma carga horária curta para ensinar gramática, leitura e conversação.
Outro fator é que as universidades deveriam ter melhor infraestrutura, dar acesso a mais projetos (sejam com bolsas ou não), ter mais materiais didáticos, laboratórios de pesquisa sempre atualizados, ampla biblioteca com acervo que supra toda a demanda estudantil. No caso da língua francesa, nosso foco, ter mais programas de intercâmbio com facilidade de acesso entre nós estudantes a países francófonos, pois somente expondo o aluno à países da língua é que se aperfeiçoa a formação do futuro professor. Outro pressuposto básico é que as universidades mantidas pelo estado não podem mais se encontrar num ambiente de descaso, pois as últimas notícias que se têm é um prelúdio do seu fim. A falta de políticas públicas que amplifiquem as ideias sugeridas acima mostra o total desinteresse que o governo tem para que com tais instituições.
Estamos sentindo que aprender uma profissão pouco prestigiada é algo que desmotiva o aluno, agora aprender uma profissão cujo campo de trabalho é difícil e hostil torna-se uma batalha quase perdida. Não podemos deixar de destacar que ingressamos na graduação com problemas na própria língua materna, dificuldades na gramática, pouco conhecimento de literatura e, em alguns casos, como na habilitação em língua francesa, inicia-se o curso sem ter o mínimo conhecimento do idioma. Acreditamos que desde cedo na escola o aluno, candidato a futuro professor, deva aprender língua portuguesa de forma mais estimulante e já na formação acadêmica ter um maior contato com a cultura inerente à língua estrangeira escolhida, na busca por uma boa formação que quebre o ciclo de problemas na educação em Letras.

3 comentários sobre “Novos enfrentamentos de uma velha profissão

  1. Coucou, vcs destacaram bem alguns problemas básicos da habilitação em Francês. Parabéns pela visão crítica, pela consciência política e tb por não desistirem diante do primeiro abstáculo!

    • Margot, obrigado pelo comentário. Nós, d’O Consoante, prezamos pelos textos com veracidade. E por sermos alunos, nada melhor do que nós mesmos para fazer essa análise mais crítica do curso. Claro que devemos louvar as inúmeras coisas positivas na nossa formação. E que, em um futuro, possamos vislumbrar um ensino de qualidade e cada vez melhor.

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