Imagem: https://images.app.goo.gl/ShRdTwxEHMPivF3x5        

 

por Anna Mota  

 

       

                A número 4 já está em sua terceira volta. Em passo rápido corre atrás do objetivo de superar a si mesma. Caminha enquanto escuta podcasts ou músicas que conectam sua mente e seu corpo. Ela é disciplinada, coisa de atleta. Um dia ganhará a sonhada medalha dourada e cada gota de suor terá valido a pena.

             O casal de adolescentes apaixonados estava discutindo a relação. Eles estão vivendo aquela fase onde os sentimentos borbulham e a vida é encenada em palco cheio de dramaticidade. Conversam agora sobre gostos, sonhos e fazem planos que não serão realizados, porque, afinal, a adolescência é fase de crescimento e de mudanças. Cada um caminhará para um lado diferente, mas as fotos guardadas naquela caixinha de lembranças desse amor terão as cores do Parque do Ingá.

                 Os meninos que trabalham na banquinha de caldo de cana poderiam estar dormindo até mais tarde como fazem os jovens aos domingos de manhã, mas escolheram trabalhar. Esforçam-se para bancar o sonho que estão construindo hoje de abrirem o próprio restaurante. O cardápio contará com pratos diferentes que chamará a atenção de grupos de amigos entusiasmados a experimentar a vida. Mas para quem gosta da beleza dos detalhes da vida, no cardápio terá também caldo de cana – com limão e gelo?

                  A família do outro lado da rua para em frente à agência de turismo, planejam a viagem dos cinco que será a primeira de muitas. As crianças gostarão de colecionar suvenires como lembrança de cada lugar por onde passarem, e seus quartos serão coloridos por suas experiências. A família saberá, porém, que a melhor sensação é a de chegar no próprio lar, paredes, tetos e afetos construídos a base de respeito e admiração pelas cores do viver.

             A mulher sentada no banquinho do parque toma caldo de cana com limão enquanto observa pessoas passarem e fantasia sobre suas vidas. Respira fundo o ar-natureza do parque e anota em seu caderno bem de lá de onde enxerga o mundo. Ela sabe que tudo isso pode acontecer, ou não. As pessoas podem continuar assim, ou não, se a cidade continuar, ou não. Todas essas vidas dependem de números. Dependem dos milhares, das centenas e da dezena que decide tanto sobre a gente todo dia. Hoje é dia de verde-confirma, verde-esperança de digitar o número certo que, afinal, decidirá quem é que decide. A mulher sentada no banquinho tem esperança que a atleta, o casal, os meninos, a família e ela mesma hoje tenham consciência disso.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *