Fonte: Foto: reprodução/Midia Ninja/Globonews. Disponível em: 100 mais influentes da Time em 2022: lista tem dois brasileiros (dci.com.br)

        

               Sem absolutamente nenhum tipo de visão “messiânica”, pode-se dizer que vivemos um momento apocalíptico no mundo, seja pela situação pandêmica, seja por uma guerra territorialista falocêntrica, seja pelos atentados à ciência, seja pela depredação do meio ambiente e principalmente pelo grande mal que nos assola: o negacionismo. Nunca na história da humanidade se teve tanto acesso a informações, com tamanho potencial para a qualidade de vida de nossa espécie e das tantas outras pelas quais somos responsáveis e, no entanto, as notícias que observamos são de retrocesso.

              No Brasil não é diferente. Uma parte considerável dos representantes políticos contribuem ativamente com des-políticas públicas, pelo modo como a pandemia foi tratada, ou melhor, “não tratada”, na dilapidação do seu patrimônio intelectual, científico, florestal e humano. Des-políticas que aumentam o abismo social entre as classes, desmantelando a educação, negligenciando a inflação, administrando com incúria o número de milhões de desempregados e insistindo na desinformação. Em suma, são tempos de peste, de perseguição à ciência, de líderes maquiavélicos e de obscurantismo nas informações que se proliferam em velocidade virulenta a cada mensagem falsa recebida e propagada pelas ferramentas digitais. Se a Idade Média foi um tempo de trevas, o que dizer do tempo presente?

             Ainda sobre as peculiaridades do nosso país, o noticiário relata quase que diariamente os ataques à educação superior gratuita, como o caso mais recente, em que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 206) intencionava a cobrança de mensalidades nas instituições públicas de ensino, proposta intensivamente repudiada pela oposição, por reitores e estudantes  a ponto de feliz e racionalmente ser retirada de pauta. Na visão dos reitores, gestores das instituições, o pagamento de mensalidades por determinados estudantes configuraria falta de isonomia nos bancos das universidades.

             Aliás, falta de isonomia é praticamente uma prerrogativa do modus operandi do Planalto e de seus aliados, quando o assunto recai sobre invasão de terras indígenas e liberação para atividade de garimpos. E em todo esse contexto, a população só é requisitada em atos de autopromoção das personalidades políticas, como na esdrúxula cerimônia ocorrida em março deste ano, que concedeu a medalha de honra ao mérito indigenista ao então presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Justiça Anderson Torres, ação promovida, diga-se de passagem, pelo próprio ministro, e que foi considerada, no mínimo, afrontosa pelas entidades ligadas às causas indígenas, mediante às falas discriminatórias e a inércia na proteção aos povos nativos.

             Diferentemente desse arranjo de homenagem, o mundo recebeu, no último dia 23 de maio, a lista das cem pessoas mais influentes do planeta, editada pela revista Time, veículo de imprensa internacional com um público em torno de 26 milhões de pessoas e cuja tradição vem desde sua fundação em 1923. Tal lista é resultado de discussão acadêmica e da sociedade global, e faze parte dela tanto indivíduos que contribuem positivamente quanto negativamente em ações para mudar o planeta. Dentre as personalidades escolhidas do ano de 2022, não por partidários, beneficiários, compadres ou (com)patriotas, vimos o nome de dois brasileiros que trabalham para um mundo melhor e mais justo: Sônia Guajajara e Túlio de Oliveira.

             Por desconhecimento do público em geral ou não acadêmico, podem surgir questionamentos quanto à relevância, a real contribuição desses dois brasileiros à humanidade. Mais do que nomes ou indivíduos, Sônia Guajajara e Túlio de Oliveira são personalidades que se fazem ouvir e que agem em defesa dos alvos desses tempos incertos devido a líderes e pessoas inescrupulosas. São vozes ativas em prol de povos indígenas, do meio ambiente e da ciência. Sônia Guajajara, ativista, mulher e indígena, é uma das coordenadoras executivas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Em sua trajetória, passando pelo magistério, o exercício de auxiliar de enfermagem, a graduação em Letras e Pós-graduação em Educação Especial, sempre se colocou como defensora dos povos indígenas, da educação e do meio ambiente. Suas ações já a levaram à frente de representantes mundiais como Barack Obama em fóruns internacionais e até a ser intimada pela Polícia Federal por críticas ao atual presidente.

             O cientista brasileiro Túlio de Oliveira, no ano de 2021, foi considerado uma das dez personalidades científicas mais relevantes do mundo, isso porque o biotecnólogo sequenciou, em uma universidade da África do Sul, a variante Omicron do coronavírus, com todo seu potencial de transmissão. Duas pessoas de mundos diferentes, ambas egressas de universidades públicas, cada qual com sua luta, representantes de um país que inúmeras vezes não os representa, um país que apaga suas origens, que prolifera “Kit Covid”, que impõem limitações ao acesso de informações sobre os números da doença e que nega o desmatamento desmedido na Amazônia e a dignidade dos povos que compõem seu povo. Eis a relevância.

 

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