Compreende-se, neste contexto de necessário isolamento social, que há um bem maior, o qual interessa a todos: a vida. Historicamente, em termos estruturais, o Brasil é um país com amplas carências sociais, um contingente significativo de pessoas com um mínimo de poder aquisitivo e tantas ainda abaixo da linha da pobreza. A Covid-19 é só mais um fenômeno que evidencia a tão conhecida face cruel da enorme desigualdade social.

      Não é difícil constatar, de um lado, que a pandemia trará consequências desastrosas a vários setores da sociedade. A economia já vem sofrendo impacto, e o desemprego é só um de seus efeitos. A saúde pública, normalmente tão negligenciada, vem se colocando à prova com um número cada vez maior de infectados pela doença. Não bastasse a quantidade insuficiente de leitos para suportar a velocidade com que se dá o contágio pelo vírus, o sistema hospitalar, em diferentes instâncias públicas, sofre com a falta de profissionais da área, sem contar os tantos que estão se afastando por estarem contaminados.

       Por outro lado, se a crise permite entrever aspectos positivos, destaca-se o papel essencial da ciência e da participação efetiva de pesquisadores, em seus grupos de trabalho, nas universidades públicas e nos institutos de pesquisa, que não estão medindo esforços para descobrir caminhos de combate ao novo coronavírus, sem deixar de considerar as etapas do processo científico e a ética requerida em suas ações. É o caso do Grupo de Estudo de Evidências Científicas em COVID-19, da Universidade Estadual de Maringá, formado, em sua maioria, por professores pesquisadores e egressos, com o objetivo de sistematizar as informações científicas sobre a doença e, assim, respaldar as ações de profissionais da saúde. Certamente, é o momento ideal para que o setor da ciência resgate seu prestígio, irresponsavelmente atacado na história recente do país, quando medidas drásticas estão por restringir investimentos necessários para o desenvolvimento das pesquisas nas diferentes áreas do conhecimento, sem exceção.

       E são os cientistas, as autoridades médicas, o Ministério da Saúde, as secretarias estaduais e municipais de saúde que projetaram que, neste mês de maio, a curva da pandemia poderá atingir o ápice. Os números de casos da COVID-19 não param de subir no Brasil. Soma-se mais de 100 mil pessoas infectadas, com quase 8 mil mortes causadas pelo vírus. Assusta? Sem dúvida. Da noite para o dia, a população passou a viver outra rotina e ninguém estava preparado. E é bem possível que vá viver um “novo normal” em um pós-pandemia.

       Como se toda essa situação não fosse o bastante, convive-se, infelizmente, com discursos conflitantes e comportamentos, no mínimo, questionáveis.  O isolamento social foi o único remédio que muitos países, não só o Brasil, encontraram para evitar um contágio maior entre as pessoas e, consequentemente, frear o número de óbitos. Em meio ao caos, dividem opiniões as medidas tomadas por algumas autoridades, nas diferentes esferas do poder (municipais, estaduais e federal), que buscam afrouxar as regras de isolamento e distanciamento sociais.  Presta um enorme desserviço à sociedade aquele que ainda não enxergou a dimensão da crise sanitária que assola o planeta. O que traz alento é ter a certeza de que a ciência está cumprindo o seu papel.

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