por Rafael Alves e Thamires França

 

                “Resiliência Criativa” foi o título da palestra proferida pelo escritor Fabrício Carpinejar, no Auditório Sertões, com mediação do jornalista Victor Simião, no segundo dia da FLIM.

                        Fabrício Carpinejar é escritor, jornalista e professor universitário. Com vinte anos de carreira, publicou cerca de 40 livros dos mais variados gêneros: conto, crônica, infantojuvenil etc. O primeiro livro “As solas do sol”, de poemas, foi publicado em 1998, enquanto o mais recente, “Cuide dos pais antes que seja tarde”, lançado este ano. Ganhador de vários prêmios, em 2009 foi contemplado com o Jabuti, na categoria contos e crônicas.

                Carpinejar foi, inicialmente, convidado pelo mediador a falar sobre o último livro, o já mencionado “Cuide dos pais antes que seja tarde demais”. Assumiu que o livro é um pedido de desculpas aos seus pais e que a motivação surgiu, em determinada circunstância de sua vida, na qual se viu encarregado de preencher a ficha médica de seu pai, dando-se conta de que não o “conhecia”. “Eu, com 46 anos, era um analfabeto do meu pai”, disse o autor.

                         Nesse momento, Carpinejar levantou uma reflexão de que a paternidade/maternidade é vista, pela maioria de nós, como uma via de mão única, em que os filhos só se colocam na posição de receber. E ainda que “pai” e “mãe” são tratados como funções e pouco se olha para a pessoa que está por detrás dessas funções.

                         O mediador, na sequência, questionou sobre a relação do autor com a mãe, visto que ela aparece com bastante recorrência no livro. Este foi enfático ao dizer que “minha mãe me salvou. Eu devo tudo a minha mãe”. Carpinejar explicou a importância da mãe, relatando uma situação de infância, em que ele apresentou problemas para ler e escrever, o que levou sua mãe a pedir licença no trabalho e dedicar-se a ensiná-lo, o que foi realizado com êxito.

                            Victor Simião, dando prosseguimento à palestra, questionou se os pais de Carpinejar leram o livro. A resposta afirmativa do escritor veio acompanhada de uma fala: “o livro é realmente um livro de desculpa, mas só pode pedir desculpa quem encontra antes o agradecimento. Temos que agradecer para termos uma reserva para perdoar o outro. Quem não agradece, não perdoa”. Ainda completou dizendo que “a única maneira de superar uma tristeza é criando boas lembranças; e que ninguém vai criar boas lembranças estando distante”.

                      Dando continuidade, foi colocado em pauta o embate entre pais e filhos. A esse respeito, Carpinejar comentou que, na adolescência, é quando ocorre a construção da identidade e que ela só acontece em confronto com pais. “Como vamos aprender a nos defender do mundo, se não começarmos pelos nossos pais?”, questionou o escritor. Em contrapartida, ele aponta um equívoco que geralmente se sucede nessa etapa, que é considerar os conselhos dos pais como uma censura, uma ameaça. E relacionou isso com as suas próprias vivências: “passei metade da vida fugindo dos meus pais e a outra metade tentando reencontrá-los”.

                           Ainda no que diz respeito à família e ao livro, Carpinejar apontou a importância da figura dos irmãos, dizendo que esses são referenciados implicitamente no seu livro. No decorrer da sua fala, enunciou que não há nada mais triste que uma família dividida, o que, em boa parte dos casos, ocorre por orgulho e “o amor e o orgulho não podem coexistir”, complementou o palestrante.

                         Em dado momento, Fabrício disse que passava a maior parte do tempo tentando mostrar como seus pais eram atrasados e conversadores e que tudo mudou quando ele percebeu que se ele pensava de outra forma era porque os pais aceitavam que ele pensasse diferente. Deixou, então, como lição que nós devemos aceitar que as pessoas pensam diferente. Destaca-se que a maior parte das falas do autor em relação à família foi bastante emocionada.

                            Levando a discussão ao âmbito da produção literária do autor, o mediador, ao constatar que a partir de 2005 as obras passaram da poesia para a prosa, questionou se havia alguma razão específica a mudança. Carpinejar disse, então, que a poesia é um relâmpago, é difícil de se fazer. Mas que, mesmo assim, conservava o gene da poesia em si, de modo que seu pensamento poético ainda reverberava nas crônicas e narrativas que escreve.

                            Focalizando o tema da FLIM, Victor citou uma frase do escritor que é “estar ao lado do mais fraco é poesia” e indagou se a literatura é uma forma de resistência. Carpinejar afirmou que é “pura resistência”. Para ele, a literatura é sinceridade, pois diferentemente de todo mundo que costuma dizer “mude sua vida”, a literatura diz “acredite na sua vida”. Ainda mais, a literatura dá motivos para acreditar que determinada forma de viver a vida não está errada. Para o poeta “sempre nos fazem acreditar que estamos em ‘falta’, mas não estamos em falta; e a literatura nos mostra que a gente transborda e, para transbordar, a gente transborda com pouco e esse pouco faz com que sejamos essenciais”.

                        Ao final, foi aberta uma sessão de perguntas da plateia e o encerramento da palestra se deu com um jogo de perguntas rápidas, em que o mediador falava uma palavra e Carpinejar respondia o que ela significava para ele por meio de outra palavra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *