por Everton Paulino e Lorena Martins

O almejo e a pressão externa para o ingresso em um curso superior começam cedo, fato esse conhecido por todos. Seja pelo ensino médio, pelo seio familiar ou pelo mercado de trabalho cada vez mais concorrido, o jovem se vê cada vez mais impelido a decidir, talvez cedo demais, a carreira de sua vida. Em uma sociedade onde o lucro adquiriu um status soberano na vida das pessoas, essa decisão vem sendo cada vez mais pautada pela dicotomia “curso que dá dinheiro” versus “curso que não dá dinheiro”. A graduação em Letras, como inúmeras outras áreas das ciências humanas, talvez encabece a lista dessa última categoria. O porquê dessa liderança? No decorrer das últimas décadas, a prática do ensino caiu cada vez mais no desprestígio, outra realidade efetivamente difundida pelo senso comum. Assim, ao optar por essa área, aquele que o faz é visto como o bravo cavaleiro ou a brava amazona dispostos a enfrentar a baixa remuneração quase certa no futuro. Porém, para além da questão da estabilidade atrelada à valorização, o que há escondido, velado, desapercebido pelo discente? No que, de fato, consiste uma graduação na área do estudo e ensino de línguas? Quais os ramos do futuro que se abrem diante dessa escolha?
O universo acadêmico é plurifacetado, dentro e fora dos muros da universidade. Todas as áreas do conhecimento e seus respectivos cursos de ensino superior possuem veredas diversas e muito ricas a serem exploradas. No entanto, por consequência de muitos fatores – alguns como o caráter seletivo patente das atividades extraclasse e o mínimo interesse que o acadêmico deposita na sua graduação, principalmente no período inicial, encantado como está com as transformações sociais concomitantes à entrada na universidade – a grande maioria dos discentes se limita a frequência às aulas, ignorante (propositalmente ou não) ao grande número de possibilidades que os espera porta a fora. Pensando nisso, a 3ª edição d’O Consoante dedica-se à discussão das particularidades da graduação em Letras, não só como um meio de desconstruir o estereótipo limitado a respeito deste campo de conhecimento, mas também como uma forma de oferecer, tanto aos futuros acadêmicos quanto aos atuais, um panorama amplo da diversidade dos estudos da linguagem.
A partir dos textos presentes nesta edição, direcionamos o olhar para as mais diversas oportunidades de estudos e carreiras em Letras, no que toca desde a origem do curso no Brasil até a diversidade das atividades realizadas especificamente na Universidade Estadual de Maringá – UEM. Para tal, nossos colaboradores buscaram, com base em sua experiência e vivência como acadêmicos, explorar as problemáticas mais comuns e difundidas com relação à graduação em Letras. Com seu Editorial Opinativo “Para não dizer que não falei das Letras”, Samara Paes e Vanessa Ferreira partem das raízes do curso de Letras no Brasil ainda no período Colonial até o atual panorama das oportunidades que os profissionais nele graduados encontram a sua escolha.
Na primeira de duas reportagens, o trio Gabriela Pereira, Mariane Maibuck e Matheus Gomes, de maneira bastante incisiva, faz refletir sobre as possibilidades dentro e fora da universidade, e questionam: “Você sabe realmente o que está fazendo na universidade?”. Allana Freitas, Karina Soares e Letícia Terazzin, por sua vez, abordam a temática também por meio da reportagem. “Para além das salas de aula” traz, nas palavras objetivas do trio, diversas características específicas da graduação em Letras tais qual a diferenciação entre a licenciatura e o bacharelado e as inúmeras habilitações disponíveis. Com o artigo de opinião “Novos enfrentamentos de uma velha profissão”, os colaboradores Nayara Carvalho e Oscar Ribeiro denunciam a realidade de desamparo e descaso que circunda os estudantes e profissionais de nosso campo de conhecimento. Comparando as diretrizes curriculares nacionais do curso de Letras, publicadas pelo Ministério da Educação, com a presente situação da graduação em Letras pela UEM, em especial a habilitação para o ensino da língua francesa, a dupla revela lacunas e desvios graves que se repetem não só aqui mas também em outras instituições públicas brasileiras.
Acerca da atual conjuntura do curso de Letras sob uma observação mais particular dos docentes da UEM, Fernando Prezotto e Ueysla Sinhoreto buscam em suas respectivas entrevistas o relato do conhecimento de causa de docentes da área na universidade. Fernando, entrevista a Professora Doutora Liliam Marins, da área de Língua Inglesa questionando-a, dentre outros pontos, a respeito das condições encontradas por ela em seu tempo de graduação, as atividades alternativas à docência pelas quais o aluno de Letras pode optar ao final de seu curso e a atual situação do curso visto pelo olhar externo da comunidade e do mercado de trabalho. Pelo mesmo trilho temático, Ueysla busca, em sua entrevista, captar as circunstâncias do curso sob a apreciação da Professora Doutora Beatriz Moreira Anselmo, da área de Língua e Literaturas de Língua Francesa.
Ao final, a dupla Ingrid Lívero e Isabela Cristo apela ao despojo e ao bom humor da palavra, tão característicos a crônica, para exprimir em texto uma situação que a massiva maioria dos alunos de Letras já protagonizou: as preocupações práticas que a escolha pelo curso desperta no outro; o tão conhecido olhar alheio piedoso quando respondemos a pergunta “Ah, UEM, sério?! E qual curso você faz?”; o que é, afinal, ser um graduando em Letras de acordo com a concepção externa à respeito do curso.
Nós, d’O Consoante, buscamos, nessa 3ª edição, difundir e expandir a perspectiva dos olhares que recaem sobre a nossa área de formação. Desse modo, ansiamos não só compartilhar com você, leitor, as minúcias do nosso curso como também evidenciar a paixão que nos motiva a estudar para preencher uma das áreas de atuação que nos espera.

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