por Lucca Portolese e Tayana Almeida
O Brasil é o segundo país que mais consome Ritalina (Cloridrato de Metilfenidato) no mundo, só perde para os Estados Unidos. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia do Brasil, este fato se deve a um Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, mais conhecido como TDAH. Para tratá-lo o consumo do remédio tem aumentado em 1000% nos últimos anos, como afirmam dados do Instituto Paulista de Déficit de Atenção.
O TDAH é um transtorno e não uma doença, portanto não tem cura e não é adquirido por contágio. Existem três tipos de TDAH, o desatento que consiste na desatenção, o hiperativo compulsivo, que envolve a agitação e a impulsividade, e por fim, o combinado, que é a mistura de ambos. Dentre os tipos de tratamento estão a psicoterapia, coaching, ginástica cerebral e o biofeedback. Entranto, o mais utilizado ainda é o medicamento, apelidada pelos críticos como a “droga da obediência”.
O medicamento recebeu este apelido porque, atualmente, uma grande quantidade de crianças é taxada como hiperativas que sem um diagnóstico apropriado são submetidas à medicação e passam a ser mais “concentradas” e dóceis, afirmou a professora da Unicamp, Maria Aparecida Moysés, em reportagem publicada pelo Jornal do Brasil, no site do Instituto Paulista de Déficit de Atenção. Nesta mesma reportagem ela ainda diz, “Há uma tentativa de “abafamento dos questionamentos”. “Ritalina e Concerta (também tem o Metilfenidato como príncipio ativo) estão sendo prescritos para crianças que incomodam. Existe uma pressão da indústria farmacêutica, mas creio que há também o ideário de um abafamento de questionamentos, de normalização das pessoas. Todos homogêneos. Pode ser que não seja esse o objetivo, mas é o que acaba acontecendo, porque toda criança que questiona tem TDAH. Você medica e aborta o questionamento. Estamos cada vez mais usando remédio para tudo”. O motivo para esta confusão de diagnósticos são as características do transtorno, como a falta de atenção, hiperatividade, distração, agitação, desorganização, esquecimento, impulsividade, entre outros. Ao mesmo tempo em que estas são características do TDAH, são também características das próprias crianças, pois elas tendem serem agitadas, desatentas e impulsivas, já que estão em fase de desenvolvimento e descoberta do mundo.
Embora, na maioria das vezes, as crianças que sofrem do TDAH sejam inteligentes, criativas e intuitivas, elas não conseguem atingir seus objetivos e nem concluir as tarefas, por isso são prejudicadas, tiram notas baixas, não conseguem se concentrar, questionar e refletir. Essas situações as deixam “atrasadas” em relação aos colegas, o que resulta no aumento dos índices de repetência, baixo rendimento escolar, evasão e dificuldades emocionais e sociais.
Heloisa, 21 anos, aluna do terceiro ano de enfermagem, em uma instituição particular de Maringá, explica que por conta do diagnóstico tardio do TDAH reprovou no segundo ano da faculdade. “Senti sim exclusão dos colegas de classe por eu ser repetente, e sinto exclusão também por sempre tirar as notas mais baixas na sala e nunca vejo disposição dos meus colegas em me ajudarem”, desabafa. E completa, reforçando o preconceito que normalmente as pessoas com esse transtorno sofrem: “acredito que eles [os colegas] vejam meu TDAH como falta de estudo e de interesse, mas me esforço muito para conseguir aprender o conteúdo. São horas e mais horas em casa dedicadas ao estudo”. Os problemas se intensificam cada vez mais, quando a pessoa não consegue apoio dentro da própria família. “Meus pais veem o diagnostico como inexistente, banal e que isso não é um motivo para não ter concentração, não ir bem na faculdade, ser desatenta”, relata Heloisa.
É com professores bem preparados e apoio dos familiares e psicólogos que a criança conseguirá dar continuidade nos seus estudos. Katy Barbanti é pedagoga, pós-graduada em Educação Especial e Neuroaprendizagem. “Em meu primeiro ano como regente eu recebi uma aluna com TDAH. Não foi fácil trabalhar com esse assunto em sala, pois os pais ainda não aceitavam o diagnóstico. É de extrema importância que a escola, os professores, a coordenação e a psicóloga estejam unidos para facilitar o trabalho com os pais.”
O TDAH tem tratamento e isso é o principal fator da “equação”, pois é através dele que o aluno conseguirá se desenvolver nos aspectos cotidianos. “Quanto mais cedo é o diagnóstico, maiores são os resultados; na adolescência, há uma redução da hiperatividade motora, ou seja, o adolescente com TDAH têm menos agitação e necessidade de movimentação de quando é criança, entretanto, outros sintomas continuam o que pode acabar afetando sua vida pessoal e profissional”, pondera Katy Barbanti.