por Isabela Cristo

 

           O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) é composto por diversos cursos, dentre eles o curso de bacharelado em Secretariado Executivo Trilíngue (SET), o qual capacita, de modo bastante amplo, o estudante para exercer a profissão de secretário. Luizete Guimarães Barros, professora de língua espanhola, lotada no Departamento de Letras Modernas (DLM), e coordenadora adjunta do Curso de SET, comentou que o secretariado é um curso teórico-prático (mais prático do que teórico) na área de humanidades, com tendência a atender empresas; por isso, contempla fortemente a área do empreendedorismo, da administração e da economia. Para entender a importância do curso no âmbito das humanidades, é preciso compreender a história dessa profissão no Brasil.

            Nos anos 50 e 60, no Brasil, o secretário se limitava a executar as técnicas secretárias básicas, tendo uma formação apenas em datilografia, em taquigrafia, em arquivo, em anotação em agenda e, em casos isolados, em redação. Nos anos 70, esse profissional ganha uma maior valorização com o aumento da complexidade das organizações empresariais, passando a ser membro da assessoria gerencial, de modo a assumir novos papeis e a dominar a redação. Seu treinamento, portanto, passa a se relacionar com o comportamento, com o relacionamento interpessoal, com a administração do tempo e com os princípios fundamentais de gerência. Nos anos 80 e 90, o secretário assume o papel de gerente, com atuação dinâmica, envolvendo planos de ação e ajustamento intersetores, exercendo a função de gerenciamento e de assessoramento com poder decisório. A partir disso, espera-se que o secretário tenha criatividade na execução de tarefas, assim como capacidade para dar assistência ao executivo e ao time que a ele se reporta. O secretário executivo passa a executar suas tarefas mediante iniciativa individual, e seu treinamento exige direcionamento e segmentação de atividades múltiplas, o que envolve qualidade e criatividade. Por isso, passa a ter uma formação de nível superior, sendo uma profissão regulamentada.

            Levando em consideração as novas exigências do mercado, alguns cursos de Secretariado Executivo foram criados como uma especialização do curso de Letras ou como uma extensão de cursos de Administração; com o ganho de autonomia, constituíram-se em cursos autônomos. O Secretariado Executivo passou a ser ofertado em diversas instituições de ensino do país, e a UEM se baseou nos currículos de alguns desses cursos para criar o Secretariado Executivo Trilíngue, o qual foi proposto para atender o mercado de trabalho, contribuindo para a formação de novos profissionais.

            Na UEM, o curso foi introduzido por volta dos anos 2000 pela professora Aglaé Terezinha Ribas Auada, então chefe do Departamento de Letras, como uma forma de expandir as atuações do curso e dos professores de Letras. O bacharelado tem duração de 4 anos e é composto por disciplinas de diversos departamentos das humanidades, tendo uma forte concentração na área de línguas, já que, em cumprimento ao currículo, há aulas de língua portuguesa, de língua inglesa, de língua espanhola e de língua francesa, bem como por disciplinas secretariais. O curso ainda conta com horas de estágio, Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e projetos, como o  grupo GESET e a Empresa Júnior de Consultoria Executiva Trilíngue (CONSET), cujo objetivo é abrir possibilidades aos alunos para que tenham experiências nas áreas secretariais já no período de graduação. De acordo com Barros, há muitas ofertas de vagas de estágios para os graduandos de secretariado e, além disso, os alunos são incentivados a fazer estágios no exterior. “Não temos pós-graduação, mas estamos sempre incentivando os alunos a irem para um curso de pós-graduação fora da UEM”, comenta a docente.

            Leonardo Bordim, graduando de Secretariado Executivo Trilíngue e presidente da CONSET, explica a rotina do curso: “em dois dias durante a semana, temos aulas de língua estrangeira. Permeando a semana, temos as aulas das outras matérias da grade curricular que podem ser ligadas à atividade secretarial, como técnicas de secretariado, redação empresarial, aulas de gestão, ou também as matérias de outros campos de conhecimento, em que professores de outros departamentos ministram aulas que agregam ao perfil do profissional de secretariado, como as matérias de sistemas da informação, direito empresarial, administração, psicologia do trabalho e gestão de pessoas”. Ele contou que, inicialmente, interessou-se pela área ligada às línguas estrangeiras, porém passou a considerar os conhecimentos organizacionais e da vivência corporativa que a formação em SET proporciona.

            O objetivo principal do curso de secretariado é formar profissionais qualificados para atender às transformações ocorridas nos âmbitos social e empresarial, considerando o conhecimento polivalente, a globalização de mercados, o capital intelectual e a liderança como fundamentais ao desenvolvimento econômico, social e profissional. Para isso, é preciso que esses indivíduos estejam conscientes quando inseridos no contexto de atividades empreendedoras, iniciadoras e criadoras na construção da organização empresarial. Conforme descrito no site do curso, “o objetivo da UEM é oferecer um curso de Secretariado Executivo Trilíngue consolidado nos princípios epistemológico, metodológico e profissionalizante como forma de garantir a abrangência dos aspectos humanísticos, científicos, técnicos e crítico-reflexivos”, buscando, “portanto, a construção de uma formação acadêmica e profissional fundadas na teoria e prática das funções administrativas de planejamento, organização, controle, coordenação e direção, constituindo uma visão geral dos processos administrativos e das interfaces com a sociedade, possibilitando uma formação do especialista da ciência administrativa”.

            Considerando essa finalidade, o Curso de SET da UEM criou a CONSET, uma empresa júnior que possibilita a percepção de diversos papéis que os profissionais podem assumir depois da graduação. Sua principal premissa é formar, por meio da vivência empresarial, indivíduos empreendedores. De acordo com o presidente da empresa, “a vivência empresarial se dá pela prestação de nossos serviços, em que posso destacar, principalmente, os assessoramentos linguísticos (traduções, versões em língua estrangeira, correções textuais) e as consultorias em eventos (na organização, escrita e leitura de cerimoniais, apoio em monitoria e recepção durante o evento). Na realização desses projetos, o aluno tem contato direto com o mercado, com clientes reais e com a resolução de problemas. Assim, aprende com a vivência fatores inerentes à sua profissão, que não seria possível aprender em sala de aula”. Além disso, frisa que a empresa é totalmente gerida por alunos, desde o seu planejamento estratégico até a realização deste, o que permite que o acadêmico desempenhe funções formadoras do profissional empreendedor.

            Conforme determina a Lei n.º 7.377, de 30 de setembro de 1985, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 9.261/96, que regulamenta o exercício da profissão de secretário, o bacharel pode optar pela carreira de secretariado trilíngue ou de tradutor. O papel social do profissional está ligado à atuação em empresas nacionais e internacionais, o que exige grande competência linguística, cultural e técnica, bem como conhecimento sólido e adequado às necessidades empresariais no nível qualitativo. Além disso, o indivíduo formado neste curso deve ter a capacidade de criar e de gerir o seu próprio negócio. “O profissional a ser formado pela UEM será dirigido para um conhecimento especializado – em administração, relações humanas, sociais e jurídicas e idiomas (três) – e simultaneamente holístico”, conforme descrito no site de SET da UEM.

One thought on “Secretariado Executivo Trilíngue: formação ampla e empreendedora

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