Por Allana Freitas e Everton Paulino
Certa poetisa, a qual não conseguimos trazer à memória o nome, caracterizou a criança como “página em branco/ onde o adulto pode escrever/ uma história feliz ou triste, […] tela em branca e pura/ onde o adulto pode escolher/ as mais belas cores das tintas”. Alguns psicólogos do campo do interacionismo discordariam da concepção expressa por ela, contudo, essa evoca reflexões, sobretudo, naqueles da área da docência. Ora, se o professor é aquele responsável pela formação intelectual e, em parte, social de uma criança ou jovem, de certa forma suas ações delimitam, claro que não exclusivamente, as “palavras” e as “cores” que irão transformar a vida desse futuro cidadão pensante, reflexivo, atuante. No contexto de ações que transformam a realidade circundante, como ignorarmos aquele que talvez seja o agente principal de transformações a curto e a longo prazo?
Essa reflexão é, até certo ponto, corriqueira dentro do contexto escolar, podendo o professor atuar “apenas” como um transmissor de conhecimento teórico até um formador de opinião. A partir do momento em que a criança começa a frequentar a escola, passando grande parte do seu tempo junto aos professores, ela tende a vê-los como figuras centrais, exemplos. Assim, não há como negar que a influência positiva ou negativa dos professores e da escola é levada para toda a vida.
Não é difícil observarmos em circulação na mídia notícias, reportagens e afins acerca desse poder transformador, dessa motriz que desde cedo atua na vida de crianças, jovens e até mesmo adultos. Professores que, com ações muitas vezes simples, iniciativas que florescem na escola e se ampliam para toda uma comunidade, são capazes de revolucionar tanto o ensino como a vida daqueles que toca. Propostas para atividades extraclasse que mobilizam a escola e garantem a alunos de regiões violentas o distanciamento das ruas e o ingresso em práticas esportivas, culturais, musicais, etc.; educadores que dão vida a centros pedagógicos de acolhimento e de educação para crianças e jovens; ou até mesmo o professor reflexivo, que dia após dia procura despertar nos alunos a consciência do poder de mudança que possuem.
Mas por que esse tipo de postura se destaca? A disposição, a vontade de fazer a diferença é o que os empurra para frente. Enquanto alguns, já cansados pelos anos de falta de assistência, incentivo e fomento seja da parte do governo, seja das próprias instituições, permanecem estáticos, apáticos, resignados. Logo, as (transform)ações não nascem ao léu: o incentivo aos profissionais também é necessário.
Para além do caráter poético e humanístico da discussão, parecendo essas práticas nascerem de um ato isolado de boa vontade ou de consciência social, a verdade é que elas têm suas raízes ainda na formação desses profissionais que tentam prever e solucionar problemas que encontrarão no percurso de sua docência, que buscam apreender as melhores formas de ensinar e inspirar. De fato, até certo ponto essa tarefa de formar cidadãos críticos e ativos está prevista pelos documentos oficiais que orientam o trabalho de docência. Mas falamos aqui daqueles que vão além do debate de temas específicos ou do trabalho com certa metodologia prestigiada pela academia: tratamos daqueles que se doam, daqueles que lutam, daqueles que enfrentam.
Existem, sim, (porque esses sempre existem) aqueles que apontarão a falência da educação no país, a desmoralização e a desvalorização da carreira de educador, e até mesmo os que duvidarão dessa utópica força. Sem dúvida, as razões e as motivações são diversas nessa e em qualquer outra carreira. O que difere, neste caso, é o caráter humano que o trabalho exige. É preciso considerar que, à sua frente, sentados esperando ansiosamente – ou nem tanto – pelo conhecimento, estão mais do que alunos, educandos, números na lista de presença: estão vidas que serão marcadas e muitas vezes definidas pelo que acontece entre as quatro paredes da sala de aula.
Segundo GraysonKirk’s, “a função mais importante da educação, em qualquer grau, é desenvolver a personalidade do indivíduo e o significado de sua vida para ele mesmo e para os outros”. Falar em transformação não se limita às ações bravas e aplaudíveis de inúmeros professores, pedagogos e demais educadores que dão vida a projetos sociais diversos como os anteriormente citados. Falar em transformação e na força de mudar é dizer que a cada palavra, a cada gesto, a cada aula, o professor molda no aluno um pouco do ser humano que irá construir a sociedade do futuro. O que é preciso? Vontade. O papel é ilimitado. Falta só a vontade de preenchê-lo com o melhor que for capaz.