Professora Doutora Beatriz Moreira Anselmo, do Departamento de Letras Modernas, UEM. Entrevista concedida a Uesyla Sinhoreto

O Consoante: Qual é a sua formação e há quanto tempo atua como docente?

Beatriz: Minha formação no ensino superior é em Letras, com bacharelado e licenciatura em língua portuguesa, língua francesa e respectivas literaturas, pela Unesp de Araraquara. Concluí o curso de Graduação em 2005 e neste mesmo ano já havia ingressado no Mestrado. Em 2008 defendi o Mestrado e também ingressei no Doutorado, defendido em 2013, após eu ter feito um estágio doutoral na França e na Bélgica. Toda a minha especialização é em Estudos Literários. Na época em que concluí o Doutorado eu já era professora efetiva da UEM. Estou lecionando há aproximadamente 13 anos e comecei dando aulas de francês em escolas de idiomas, quando eu ainda era aluna de Graduação, e depois fui ter experiência no ensino superior.

OC: Quais eram suas expectativas sobre o curso, ao ingressar nele? Por que escolheu essa carreira?

Beatriz: Desde criança eu gostava muito de ler, sobretudo literatura. Era frequentadora assídua da Biblioteca Municipal da pequena cidade onde fui criada, Nhandeara, interior de São Paulo. Estudei em escolas públicas de qualidade, que me propiciaram bibliotecas incríveis, aulas de literatura e leitura que me estimulavam a mergulhar cada vez mais no mundo dos livros. Gostava muito de aprender e estudar línguas, das aulas de redação, língua portuguesa, dos meus professores, funcionários, enfim, do ambiente escolar. Além disso, o teatro me fascinava. Na adolescência, participei de um grupo de teatro amador de minha cidade durante 3 anos e me agradava estudar artes. Por causa desses interesses e gostos pessoais eu já tinha naturalmente o perfil para atuar na área de Ciências Humanas, em especial, no âmbito das Letras e Artes. Como eu queria ter uma formação ampla, que me proporcionasse conhecimentos diversos, e como eu também pretendia estudar línguas e literaturas estrangeiras, optei pelo curso de Letras. Acho o curso sensacional, extremamente interessante e agregador de conhecimentos. Procurei no guia de estudantes por uma universidade pública que me oferecesse não somente o diploma de licenciatura, mas também o de bacharel. Por isso escolhi o campus da Unesp de Araraquara, onde, após ter sido admitida no vestibular, pude estudar língua e literatura francesas, o latim e um pouco de italiano. Antes mesmo do vestibular eu já sabia que não queria somente dar aulas, e na universidade pude confirmar isso ao me inserir no mundo da pesquisa acadêmica, pelo qual eu me apaixonei e ao qual eu também queria me dedicar bastante. A Iniciação Científica durante a Graduação foi de importância crucial para eu aprender e entender como pesquisar em literatura que, ao contrário do que alguns podem pensar, é sim uma área muito interessante de se desenvolver estudos de grande novidade. Com o tempo e as práticas de estágios em língua portuguesa, francesa e em literatura, fui gostando cada vez mais de dar aula, principalmente por causa do contato com os alunos e do ambiente agradável de troca de conhecimentos que criávamos.

OC: Dizem que graduados em Letras têm apenas um caminho: a docência. O que você pensa disso? Quais os outros caminhos que um graduado em Letras pode seguir?

Beatriz: Não concordo com isso. Penso que o profissional de Letras pode, por conta de sua formação abrangente, como eu disse anteriormente, ter outras possibilidades de atuação que não seja exclusivamente dar aula. Claro que a docência pode fazer parte da vida desse profissional, e é comum que isso aconteça. Entretanto, ela não é sua única possibilidade de realização profissional. O graduado em Letras pode seguir outros caminhos como, por exemplo, a área de tradução e interpretação, a pesquisa acadêmica; pode ser consultor e orientador de trabalhos acadêmicos e/ou empresariais, revisor, elaborador e corretor de provas de concursos. Pode também trabalhar em jornais, revistas e ser escritor. Há muitos profissionais de Letras que são independentes e trabalham em suas casas. Não podemos nos esquecer da liberdade e das diversas possibilidades que a Internet oferece a todos os profissionais. Não são poucos os profissionais de Letras que administram seus próprios blogs, sites, vlogs e canais na Internet onde falam diretamente com o público de literatura, arte, ou dão aulas de idiomas. O importante é estar atento e aberto a tudo isso e não insistir em uma modalidade de atuação com a qual não se sente à vontade.
OC: Que dicas você dá ao aluno que está ingressando ao curso de Letras? E àqueles que já estão cursando?

Beatriz: As minhas dicas são para todos os alunos e consistem basicamente em aproveitar tudo o que o curso, a universidade, os espaços de cultura da cidade têm a oferecer. Participem de eventos, grupos de estudos e pesquisas, espaços de discussões. Frequentem as aulas de conversação em outros idiomas. Vão sempre que possível ao teatro! Assistam a filmes nas grandes telas (São exibidos semanal e gratuitamente filmes interessantíssimos na cidade!) que, também com isso, eles com certeza terão uma formação ampla, interessante, diferenciada e conseguirão definir mais precisamente sua área de atuação.

OC: Qual episódio de sua carreira causou-lhe mais emoção e por quê?

Beatriz: Muitos episódios me causam emoção. Ser professor e trabalhar com artes é se emocionar e se sensibilizar sempre. Mas vou contar um episódio que me marcou demasiadamente. Foi na ocasião em que eu ainda era aluna de Graduação, quando tive a minha primeira aula sobre Marcel Proust durante a disciplina de Literatura Francesa II. Minha professora e eterna mentora, Guacira Marcondes Machado Leite, emocionou-se profundamente durante sua leitura de trechos de No caminho de Swann. Jamais esqueci aquela aula (sobretudo de vida!), aquela leitura. Nunca me saiu da cabeça a imagem daquela professora experiente, exigente, de personalidade forte e de postura firme, entregue à emoção. Entendi ali que ser professor não é apenas transmitir conhecimentos acumulados com os títulos conquistados durante a vida, é também se permitir a ler de um jeito novo e a fazer de forma diferente. É tentar naturalmente fugir das repetições rotineiras. Todos os dias acordamos e vamos dormir diferentes.

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