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por Anna Larissa Rodrigues, Flaviane São José e Gabriel Vieira

 

            A realidade pandêmica que assola o mundo alterou todo o modus vivendi que as populações (re)conheciam como habitual. Em meio a tantas reinvenções emergenciais que foram necessárias, o sistema educacional foi posto à prova. Sem qualquer aviso prévio, do dia para a noite, as instituições de ensino, da educação básica à pós-graduação, tiveram que lançar mão de novas práticas e submeter alunos e professores a aprenderem e engajarem-se nessas práticas enquanto faziam acontecer o Ensino Remoto Emergencial (ERE). Essa também foi a realidade para a Universidade Estadual de Maringá, que  oferece ao todo 199 cursos entre graduação, especialização e programas de mestrado e doutorado, garantindo um fluxo constante de aproximadamente 23 mil alunos.

             Após alguns meses em recesso e muitas reuniões, a UEM retomou seu calendário para o graduação no meio de agosto de 2020, utilizando as plataformas digitais Moodle e Google Sala de Aula. Como essas ferramentas de ensino-aprendizagem exigem aparelhos eletrônicos, no início do ERE,  a Universidade, de modo a atender aos acadêmicos em situação de vulnerabilidade econômica, disponibilizou o empréstimo de dispositivos eletrônicos aos alunos com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. O segundo edital de solicitação abrangeu docentes. No primeiro edital, cerca de 100 discentes se inscreveram para receber os aparelhos, e durante o ano letivo, outros alunos também foram beneficiados.

            Essa ação integra o projeto de inclusão digital que faz parte de um amplo planejamento da Universidade, que busca garantir o acesso às aulas para todos os alunos. “Precisamos democratizar o ensino. É impensável iniciar o ano letivo sem incluir todos os acadêmicos”, afirmou, à época, o vice-reitor da UEM, Ricardo Dias Silva, em notícia publicada no Portal da UEM.

            No entanto, para que se possa utilizar a plataforma digital, além do dispositivo eletrônico em mãos, é imprescindível o acesso à internet, uma das grandes vilãs dessa história, ou melhor, a falta dela. Não foram poucos os problemas que alunos e professores enfrentaram e seguem enfrentando com a pouca qualidade ou velocidade, ainda mais quando compartilhada por vários membros da casa. E é com mais essa instabilidade que o ensino-aprendizagem teve que se adaptar. Ao passo que se reconhece  esse cenário de resistência do sistema de ensino, manifesta-se a maior problemática dessa nova realidade: como seguir com o ensino remoto “da mesma forma que acontecia no ensino presencial”? Isso é possível?

            Diferentes cursos reclamam diferentes cargas horárias teóricas e práticas, e não há quem não tenha perdido com a falta do ensino presencial. Em meio a tantas mudanças, dar continuidade ao trabalho pensado para o ano letivo, seja em cursos com uma maior carga teórica, seja para aqueles de maior dependência com laboratórios e clínicas, instaurou uma corrida da ressignificação de práticas e métodos. Mesmo cursos mais teóricos, como as licenciaturas, exigiram que o corpo docente debatesse novos métodos de ensino, principalmente para disciplinas práticas, como o treinamento da docência. “Esse ano teríamos aulas práticas e o estágio em sala de aula, mas só encontramos nossos alunos através de telas, quando aparecem. Como nós podemos aprender a estar em sala de aula fora dela?” diz Letícia Obici. A aluna de Letras ainda traz à discussão as incertezas sobre o futuro da docência à luz de todas as novas práticas que a realidade pandêmica exige e que não se sabe até quando durará.

                Há também os cursos que se equilibram entre teoria e prática, como os cursos de engenharia, os quais têm suas grades curriculares compostas por aulas em laboratórios. Professores desses cursos se reinventaram para fazer acontecer as aulas em laboratórios neste período pandêmico: eles vão à universidade, realizam os experimentos, e enviam a gravação aos alunos, que assistem, estudam e depois realizam relatórios. “As práticas por videoaulas ajudam, mas apesar do evidente esforço dos professores, ainda são abstratas. Então surgem muitas dificuldades na hora de fazer um relatório, já que temos que explicar detalhadamente algo que nem fizemos”, diz Paolla Melegari, aluna de Engenharia Química.

              Os cursos da área da saúde inicialmente retornaram no molde ERE e, em 2021, seguindo resoluções do estado do Paraná, as turmas de último ano passaram a assistir aulas presenciais. Na opinião de Márcia Consolaro, professora dos cursos de Farmácia e Biomedicina, há perdas em relação às aulas teóricas, mas, devido ao empenho dos professores, não são perdas tão significativas, para ela “os problemas estão nas disciplinas teórico-práticas e práticas dos primeiros anos dos cursos, uma vez que 50% da grade curricular correspondem a essas disciplinas”. A complexidade aumenta quando se pensa em um acúmulo de “lacunas”, pois o aluno não teve o conhecimento previsto para 2020, nem o previsto para 2021, e em 2022, se as aulas presenciais retornarem, cursará o que é previsto para aquele ano letivo.

             Como serão consideradas todas essas deficiências no aprendizado? Ainda não há uma resposta. O que há é toda uma força-tarefa por parte das instituições, docentes e alunos. As coordenações de alguns cursos enviaram formulários para aferir, dentre outros critérios, a qualidade dos cursos, quais adaptações funcionaram e o que poderia ser melhorado. Nesse momento, é nítido que todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem para a formação de futuros profissionais estão trabalhando e se esforçando  para que haja o mínimo possível de prejuízos, já que esses, infelizmente, são inevitáveis no contexto atual.

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