por Bruno Barra
Como uma das atrações internacionais da Festa, Selva Almada, escritora argentina, esteve em Maringá, na noite de sábado, (24) para discutir feminicído em mesa na FLIM (auditório Sertões). A sessão foi mediada por Marcos Peres, e estava também presente uma tradutora.
Para dar início a conversa, Marcos Peres perguntou à Selva sobre seu último livro, Garotas Mortas, de 2014, que relata casos reais sobre a morte criminosa de mulheres. Ela contou que o motivo que a levou escrever foi o assassinato de Andreia (primeiro caso do livro), haja vista que era uma menina de apenas 13 anos, morta enquanto dormia em sua casa, em um bairro próximo ao de Selva. A escritora afirmou que sabia que um dia queria contar essa história. O segundo caso é o de Maria Luiza, moradora de uma pequena cidade, e, assim como o de Andreia, seu crime não obteve respostas. A última morte contada no livro é de Sarita, uma prostituta, que sequer teve o corpo encontrado.
Selva ainda afirmou que o livro tem passagens de sua vida e isso foi algo espontâneo, porque a violência de gênero é uma questão que atinge a todas as mulheres “O ponto extremo da violência é o feminicídio, mas antes disso há uma série de micromachismos que atravessam a mulher. É tudo parte de um sistema”, explicou.
Ao ser questionada sobre as declarações machistas do Presidente eleito no Brasil, Jair Bolsonaro, a escritora disse que as feministas argentinas estavam por dentro do cenário político brasileiro e completou que lá também falta empatia por parte dos governantes.
As questões vindas do público não ficaram apenas para o final. Marcos Peres logo abriu para perguntas. Um dos espectadores, coordenador de clube de leitura, perguntou como ela se sentia em saber que seu trabalho será lido em uma cidade no interior do Paraná. Selva respondeu: “Fico muito feliz e agradecida. Tenho vários livros, mas esse me orgulha muito porque pulsa minha voz, o machismo me preocupa muito”. A escritora ainda contou que assim como no Brasil existem os clubes de leitura, na Argentina são comuns os ciclos de leitura. E outra questão levantada foi sobre a morte de mulheres trans, se Selva também considerava esses crimes como feminicídio, e sem demora ela respondeu que sim, e contou que no seu país é muito comum o termo “travesticídio”. De acordo com a autora é um tema de mesma urgência.
Selva Almada diz não considerar este livro uma literatura policial, porque, segunda ela, trata-se de algo que é cultural. “Lamentavelmente é um livro que também poderia ser escrito no Brasil”, reconhece. E acrescentou: “Sempre indico livros de mulheres por uma questão política, e não só porque são de mulheres mas porque são de qualidade.”
Ao perguntarem como combater a violência de gênero? Selma comentou ser uma pergunta difícil e complexa, mas uma maneira, é falar sobre o tema, também com as crianças. E lembrou que em seu país educação sexual nas escolas é também um tema alvo de críticas mais contundentes. Por fim Selva Almada agradeceu a presença de todas e todos, deu autógrafos e tirou fotos com aqueles que desejaram.