por Laura Galuch

          Na tarde de ontem, quarta-feira (21), o estande “(Re)Existir” – uma iniciativa do folhetim cultural O Gauche, da revista Pluriverso, do blog Acrópole Revisitada e do Coletivo Palavrão –, presente na 5ª edição da Festa Literária Internacional de Maringá (FLIM), promoveu a mesa literária “Literatura, futebol e resistência”. Larissa Bezerra, jornalista maringaense, e Luigi Ricciardi, escritor, crítico literário e professor, participaram da mesa, cuja mediação foi feita por Luiz Fernando Cardoso, também jornalista em Maringá.

         Larissa Bezerra falou sobre o seu livro O lado esquerdo da arquibancada, de 2017. Organizado a partir dos resultados da pesquisa que originaram o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a autora dá voz às pessoas que participam das torcidas organizadas de dois times brasileiros: do Corinthians, de São Paulo, e do Bangu, do Rio de Janeiro. “Essa publicação é resistência em formato de livro, pois é de uma mulher e ‘pirata’, porque não tem ISBN”, afirmou Ricciardi. Ao ser questionada pelo mediador sobre a escolha dos dois times, a autora detalhou que tudo começou com postagens políticas das torcidas nas redes sociais, que a fizerem decidir pelas torcidas com maior atuação política fora da internet. Além disso, o fato de algumas torcidas não aceitarem recebê-la influenciou nessa decisão.

        Como Larissa Bezerra acompanhou e estudou o Coletivo Democracia Corinthiana, o mediador questionou qual é a influência da chamada democracia corinthiana dos anos de 1980 atualmente. A autora, com algumas colaborações de Ricciardi e do mediador, retomou que o movimento de 1980 foi liderado por jogadores que, em um momento de ditadura, tomavam todas as decisões do clube por meio do voto, uma resistência na época. “A Democracia [corinthiana] hoje também luta contra o autoritarismo, mas sem uma relação com o clube e, sim, com a sociedade”, afirmou Larissa.

             Também se perguntou o motivo da escolha de acompanhar a torcida do Bangu, um time com menos expressão nacional em relação a títulos. De acordo com a jornalista, a resistência é muito presente no contexto do time carioca, uma vez que, em dado episódio, aceitou jogadores negros e, por isso, foi expulso de campeonato. “A torcida tem uma característica diferente, porque é composta por jovens, por pessoas sem estudo e por moradores da periferia”, acrescentou a autora.

         Após esses esclarecimentos, os participantes da mesa comentaram que o capitalismo mudou o futebol, que deixou de ser jogado e passou a ser um comércio. Exemplo disso são as finais de campeonatos importantes que cobram valores absurdos dos torcedores; dessa forma, trabalhadores, torcedores mais humildes não conseguem acompanhar o time do coração. Essa é uma das maiores reivindicações das duas torcidas citadas. Nesse contexto, “o futebol, considerado o ópio do povo, serve como manipulação para o bem e para o mal”, afirmou Ricciardi. Nos exemplos dados pela jornalista, encontra-se a primeira opção.

        Ao ser questionada pelo mediador sobre a violência nos estádios, Larissa afirmou que os atos de alguns membros das torcidas organizadas são reflexo do contexto social; o torcedor comum não deve prender-se a episódios isolados, pois os campos precisam ser ocupados por todos. Fica evidente que o esporte ajuda a contar o contexto das sociedades em determinado tempo e em determinado espaço.

      Em seguida, o mediador levantou outros aspectos importantes quando o assunto é a resistência: o futebol feminino e a mulher no futebol. “Em uma breve pesquisa, constatei que a única jogadora que possui biografia é a americana Hope Solo. Na época de sua publicação, o fato mais divulgado foi o beijo que a atleta deu em uma companheira de time”, afirmou Larissa Bezerra. Marta, eleita seis vezes a melhor do mundo, não tem biografia.

        No fim da mesa, os participantes retomaram os acontecimentos de 2018, quando torcidas rivais – do Santos, do São Paulo, do Corinthians, do Palmeiras etc. – juntaram-se para defender um bem comum: a democracia. “Os torcedores criaram um plano em favor do futebol. No segundo turno, ele foi entregue aos candidatos: um recebeu; o outro não”, afirmou a jornalista. Isso demonstra que a política está presente em todos as esferas sociais, sendo um fator necessário para dissociar a imagem de bandido que, muitas vezes, é atribuída aos torcedores.

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