por Allana Freitas e Tayana Almeida
O desenvolvimento do senso crítico é um dos principais objetivos presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em busca de uma educação que vá além do conhecimento teórico e a fim de oferecer aos alunos uma formação a partir de uma postura crítica. Os PCN enfatizam, entre os objetivos do ensino, levar o aluno a “posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais” (Brasil, 1998, p.7). Pensar em como isso se desenvolve na educação atualmente é papel não só do professor, mas de toda a comunidade escolar e externa, uma vez que aquilo que entendemos como senso crítico de modo amplo e não em termos mais específicos ou filosóficos, é uma capacidade que os indivíduos adquirem nos diversos ambientes que convivem: casa, comunidade, escola, espaços comuns.
O senso crítico se desenvolve a partir de reflexões, questionamentos e análises da realidade e visa avaliar a consistência e a veracidade das afirmações feitas por um individuo ou um grupo. Ele se dá a partir do conhecimento, raciocínio ou do método cientifico. Exige clareza, certeza e comprovações. O pensador crítico reconhece e evita preconceitos, identifica e caracteriza argumentos e avalia as fontes de informações, para dessa forma, alcançar uma posição procedente e justificada sobre um determinado tema ou assunto. A criticidade, isso já foi destacado por filósofos como Kant e Rousseau, é uma atitude perante a vida e as coisas; é mais uma prática intelectual de problematizar esses aspectos buscando conhecê-los melhor, entender suas origens, seus propósitos, retirando consequências. Tal atitude intelectual, fundamentalmente, é mais um hábito que vai se adquirindo com o tempo, com o exercício de questionar e problematizar os inúmeros fenômenos que encontramos no nosso cotidiano.
Para o Prof. Dr. José Martins, do curso de Filosofia da Universidade Estadual de Maringá, “muitos desses aspectos já estão presentes nas crianças na infância, mas a escola, junto com a família e a sociedade, como já dizia Freud, vai podando e inibindo essa dimensão crítica do espírito humano”. Ao fim da educação básica, o que era um aspecto quase natural aos seres humanos, torna-se um bloqueio racional, ao ponto de muitos daqueles que passaram pelo processo de escolarização não serem capazes de problematizar o seu contexto social, sua vida.
Durante o período de discussão da MP 746, que retira a obrigatoriedade de algumas matérias no ensino médio, dentre elas Sociologia e Filosofia, falava-se muito sobre o papel de tais disciplinas para o desenvolvimento do pensamento crítico, porém devemos estar atentos ao fato que a formação crítica não deve estar vinculada a uma disciplina em especifico. Segundo o professor José Martins a questão não é a disciplina, ou conteúdo, mas o modo como se concebe o processo de formação escolar. A Filosofia e a Sociologia não são e nunca serão a salvação do pensamento crítico. Essa ideia é reforçada também pela Profa. Dra. Claúdia Hila, do Departamento de Língua Portuguesa, da UEM, ao destacar que a argumentação está presente em todos os discursos e disciplinas. O professor de História, de Geografia, de Biologia e até mesmo o de Matemática trabalham com fatos e justificativas, que são componentes do pensamento crítico. O problema é que essas disciplinas geralmente têm sido ministradas sem qualquer reflexão.
A Sociologia é o estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as relações sociais e as instituições. Já para a Filosofia, aquilo que se chama de “problema filosófico” só pode ser resolvido por meio da investigação racional, pois não podem ser constatados por meio de uma experimentação como Matemática e História. Levando em consideração tais estudos, é irrefutável o grande papel que essas matérias possuem para o desenvolvimento do pensamento crítico. A grande questão que gerou discussões foi, não somente a possibilidade de essas matérias se tornarem facultativas, mas o fato de ficar a critério das escolas ofertá-las ou não, portanto é de se esperar que diante da atual realidade das escolas públicas brasileiras, grande parte das instituições optarão por não ofertar esses itinerários.
Tendo em vista este cenário, supõe-se que seja uma boa hora para expandirmos nossos conhecimentos e descobrirmos o que realmente significa pensar criticamente e não tratar do assunto de forma falaciosa. Ao contrário do que muitos pensam, o pensamento crítico não resulta pensar de forma pessimista ou instigar a procura por falhas. Tendo em vista que, os pré-conceitos, valores históricos e religiosos dão base para justificativas baseadas no senso comum. É preciso trabalhar tais conceitos nas escolas, a fim de questionar os critérios usados para formulação dessas opiniões. O professor José Martins conclui esse ponto dizendo “Os pré-conceitos têm origem em todos aqueles que não possuem uma boa formação cultural. Há muitos pré-conceitos de caráter marxista, porque as pessoas não leram Marx. Uma formação religiosa calcada em bons referenciais da Ciência Teológica não dá margem para pré-conceitos. O problema é a ignorância que usa do verniz cultural dos bem falantes ou pensantes e desfilam impropérios e estupidez em público”.
Desenvolver o pensamento crítico é um dos trabalhos de qualquer professor e é fundamental para um ensino de qualidade questionar, promover debates, apresentar pluralidade de visões e encorajar controvérsias. Dessa forma os alunos são desafiados a buscar argumentos plausíveis para justificar suas opiniões. Porém, alerta o professor José Martins, que essa não é uma atribuição única e exclusiva da escola. Considerando o tempo em que o aluno passa no ambiente escolar, que corresponde somente a um quarto de seu tempo diário, ela não é o principal lugar onde se pode e deve ser desenvolvida essa tarefa. É preciso atentar aos outros ambientes em que o indivíduo convive e como eles proporcionam a criticidade perante a vida.
De fato a formação do senso crítico se torna hoje um desafio de toda a sociedade, face a necessidades que o século apresenta.É necessário que seja levada a sociedade a reflecções, questionamento e análise de toda e qualquer realidade de modos a nos prepararmos e respondermos de maneira eficáz aos desafios que a sociedade impõe.
Precisamos optar pela divulgação de temas sobre o senso crítico e sua vantagem para a própria sociedade.
Meu contributo.