por Samara Paes e Vanessa Ferreira
Antes do século XIX, os brasileiros interessados em aprofundar seus estudos deveriam frequentar universidades portuguesas. O primeiro curso de Letras do Brasil surgiu em São Paulo, no ano de 1933 e, apenas dois anos depois, o país recebe especialistas estrangeiros destinados a lecionar matérias da área. O curso de Letras da UEM constituiu-se em 22 de fevereiro de 1967 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maringá (antecessora da UEM). Vale lembrar que, antes do aparecimento das faculdades de letras, existiam estudiosos da língua e da literatura autodidatas.
O curso de Letras proporciona uma riquíssima visão de mundo, fornecendo a capacidade analítico-interpretativa crítica e a independência ideológica. É impossível concluí-lo sem ter enfrentado transformações e crescimento pessoal e ideológico, uma vez que é um curso perpassado por muitas filosofias, debates e que estimula a reflexão a respeito de diversos assuntos, que vão desde teorias linguísticas até o vasto mundo literário. O objetivo dessa graduação, segundo os parâmetros do MEC e das ementas acadêmicas, é capacitar profissionais que dominem teorias que circundam os conhecimentos linguísticos – o uso da língua portuguesa e/ou estrangeira em sua estrutura, funcionamento, dinâmica cultural e variações, sob os contextos orais e escritos – e literários com criticidade. Para tanto, o acadêmico sabe que será preciso desenvolver senso crítico. Em suma, trata-se de uma formação que habilita múltiplas competências e habilidades, instiga o trabalho em equipe, a resolução de problemas, a tomada de decisões e que requer domínio de língua, de literatura e de cultura, com uma formação permanente e contínua.
Pelo Brasil, a graduação em Letras configura-se em licenciatura e/ou bacharelado, com habilitação única ou dupla (português e outro idioma estrangeiro). Nas licenciaturas, o conteúdo base é articulado a matérias referentes à educação básica, didática, produções e pesquisas. Segundo o Parecer CNE/CES 492/2001, documento que aponta as diretrizes curriculares nacionais de diversos cursos, dentre eles o de Letras, o campo de atuação do profissional da linguagem é bem amplo: pode atuar como professor, pesquisador, crítico literário, tradutor, intérprete, revisor de textos, roteirista e assessor cultural, por exemplo, podendo, ainda, expandir seus conhecimentos para outras áreas, se assim lhe parecer conveniente/interessante, uma vez que a área de Letras permite o trabalho com a linguagem (seja ela oral, seja escrita), de modo geral, em seus diversos níveis. Consideramos que essa diversidade é importante, principalmente porque, atualmente, ao escolherem a carreira, muitas pessoas têm abdicado daquilo que se sentem realizadas em fazer e daquilo que sabem ter aptidão devido às más condições de trabalho a que, muitas vezes, são submetidos os profissionais da licenciatura. Esse amplo campo de atuação presente na área de Letras é, assim, de grande valia para aqueles que se identificam com a área, mas ficam temerosos e inseguros em relação ao que poderão fazer (além de lecionar) ao término da graduação. Para essas pessoas, afirmamos que o profissional de Letras pode se adequar no mercado de trabalho de muitas formas: trabalhando em escolas de idiomas, universidades, emissoras de TV e rádio, editoras, cursos preparatórios para concursos e vestibular, departamento de comunicação etc.
A importância do curso de Letras vai além de formar profissionais para o complicado mercado atual, mas prepara seres humanos capazes de pensar e refletir questões que são deixadas de lado nesse mundo onde o que vale é a informação rápida e sucinta. Vale ressaltar, também, que, como indica a Flor de Lis com suas pétalas (símbolo de Letras), essa área parte de três grandes vertentes: a Linguística, a Literatura e a Gramática, sendo que aqueles que decidem segui-la podem se encaminhar para a área de sua preferência e nela realizar diferentes trabalhos. Sendo assim, quem crê que as letras propiciam um único caminho (o da licenciatura) deve rever seus conceitos. Frequentemente, encontramos pontes entre a literatura e a história; referências ligadas às artes; e alusões à cultura e modo de viver de determinada civilização em determinada época. A linguística também não é fechada para si: ela pode fazer um trabalho conjunto com a política, com a semiótica, com o jornalismo e a publicidade. Confessamos que, às vezes, essas “áreas irmãs” nos atraem, mas é momentâneo.
Chamemos atenção e rendamos homenagens ao trabalho do professor, que exerce seu ofício em meio a grandes desafios e enfrentando inúmeras dificuldades, principalmente no mundo atual. Seres plenos de valores humanísticos, sensibilidade e percepção, uma vez que lecionar, pensamos, requer muito mais do que os anos de experiência na área, os anos de graduação, os possíveis projetos de pesquisa e as especializações. O professor de Letras (como os outros professores) desempenha funções muito mais relevantes em sala de aula do que apenas educadores que ensinam determinado conteúdo ou auxiliam seus educandos nos caminhos a serem tomados; o exercício do professor, como bem sabemos, é o de ensinar, mas de, muitas vezes, apontar caminhos, aconselhar, ajudar (não apenas nos estudos) e, em tantos casos, tornar-se amigo; basta pararmos para refletir sobre a nossa gratidão e amizade por tantos deles que passaram por nossas vidas e que deixaram a alegria de tê-los conhecido. Além de um exercício didático, é, sobremaneira, um exercício humano.
Os mestres possuem o dom de transmitir o conhecimento (o objeto de busca de qualquer pessoa, o que movimenta o mundo desde tempos remotos), mas, também, de causar inspirações e aspirações por grandes sonhos e conquistas. Por serem detentores de tantos dons, são pessoas capazes de mudar e encorajar o mundo. É conveniente que ressaltemos, porém, que tamanha responsabilidade não pode ser atribuída apenas aos dons daqueles que, apesar das barreiras, decidem trilhar o caminho das letras, mas ao esforço e à dedicação que a graduação em Letras exige de quem a escolhe.
Certamente, os professores são os responsáveis pela escolha profissional dos jovens estudantes que desejam se aventurar pelo maravilhoso universo das letras, bem como de outras áreas. Os docentes, inclusive, são a esperança dos cursos de licenciatura, tanto na UEM quanto em outras universidades públicas do Brasil, diante da falta de estrutura e investimento. Sabemos, por fim, que o caminho a ser percorrido é tortuoso e cheio de dificuldades, mas que o final (que, vale lembrar, não é perceptível, devido à contínua formação) é prazeroso e cheio de boas lembranças regadas de momentos de humanização, de aprendizado, de emoção e, acima de tudo, de amor às letras.