Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), muitos eventos são realizados para apresentação de temas diversificados, sobretudo nas áreas de linguística e de literatura na contemporaneidade. Todavia, nos dias 10, 11 e 12 de novembro, determinado evento possibilitou a discussão de tema não muito explorado nessa instituição, mas que desperta grande interesse em estudantes que puderam experimentar a temática. Intitulado “IV Ciclo de Palestra de Cultura Clássica: a Literatura Antiga em Debate”, o evento contou com a participação de alunos da graduação e pós-graduação, assim como docentes que se propuseram a prestigiar o ciclo. Realização conjunta do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias (DTL) e do Departamento de Filosofia (DFL), os encontros foram organizados pelo Professor Luiz Carlos André Mangia Silva, que teve auxílio do Professor Alexandre Villibor Flory, ambos professores do DTL. A essência desse ciclo, bem como nas três edições já organizadas, está na qualidade dos palestrantes convidados: especialistas de vasta e relevante produção científica, provenientes de renomadas instituições de ensino superior no Brasil. Na IV edição, o conteúdo debatido versou sobre poetas e prosadores das Literaturas Grega e Latina, abordando novas perspectivas e possibilidades de interpretação. No que tange o mundo grego, tratou-se de Homero, Aristófanes e Esopo. No que concerne ao mundo latino, houve Virgílio, Plauto e os grafites de Pompeia.
Tendo em vista o seu cunho multidisciplinar, o evento também propôs estreitar as relações entre os cursos de Letras e Filosofia, principalmente na esfera da graduação. Ademais, objetiva fortificar o ainda recente Programa de Pós-Graduação em Filosofia, além de incentivar grupos de pesquisa que perpassem os âmbitos da Filosofia das Letras, na tentativa de democratizar os estudos clássicos, tornando-os acessíveis e frutíferos em nossa instituição.
O presente panorama dos estudos clássicos
Embora seja um tema profundamente rico, não raro a Literatura Antiga e demais estudos clássicos ficam em segundo plano nas instituições de ensino brasileiras. Em entrevista a O Consoante, o Professor Luiz Carlos conta que sua maior motivação ao aceitar o convite para realizar a organização do evento foi o desejo de dar maior visibilidade a essa área de estudos. Segundo ele, a defasagem nos trabalhos a respeito do tema está polarizada: “essa área, que aqui na UEM parece pequena, minguada, quase que em extinção, é pujante em instituições de maior prestígio.” Como exemplo, cita o departamento de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo (USP), que conta atualmente com vinte e cinco professores atuando exclusivamente no ensino de língua e literatura grega e latina.
Sobre a opacidade no quadro atual dos estudos clássicos, Alexandre Villibor Flory chama atenção à pouca divulgação da área. Para olhares menos atentos, a divulgação pobre faz com que a produção científica sobre Literatura Antiga pareça escassa ou estagnada: “o estudos clássicos, de maneira geral, tem sido desvalorizados. Na UEM, apesar disso, mantemos ainda o núcleo de estudos clássicos. Os alunos do curso de Letras ainda tem aula de Latim, embora um ano seja pouco comparado ao que tínhamos há algum tempo, na época da minha formação. Há também o curso de Cultura Clássica, […] só o fato de ele existir e possibilitar que pensemos relações com a Antiguidade já é positivo.”
Ainda que os estudos clássicos estejam visivelmente ofuscados em nossa instituição, ambos os professores comentaram com satisfação a presença do público no Ciclo de Palestra de Cultura Clássica. Segundo dados da organização, o número de ouvintes variou entre 115 e 130, o que supera a capacidade do auditório do DTL, onde se deu o evento. “Todos os palestrantes convidados”, afirma o Professor Alexandre, “valorizaram a presença maciça dos alunos. Isso, aliado ao fato de ter sido um evento que reuniu tantos nomes de peso na área, é muito positivo para nós da universidade”.
Literatura antiga, discussões novas
Concatenadas de modo a estimular, a cada rodada, o diálogo entre textos de língua grega e romana, as falas foram bastante abrangentes: passaram pelos grandes épicos, literatura dos letrados; pelas comédias, de contornos mais populares, mas ainda bastante elitizados; pelo grafite e pela fábula, manifestações textuais feitas por e para povo. Para Alexandre Flory, essa análise dialética das produções literárias antigas muito tem a oferecer ao pensamento acadêmico sobre a literatura em geral, pois desequilibra suas certezas teóricas e derruba a tendência à classificação inócua em estéticas e em gêneros: “podem dizer que isso é épico, isso é dramático, isso é lírico, mas quando vamos ao texto grego essas classificações nem sempre são claras […]. É muito mais fácil decorar os gêneros, dizer que lá nasceram e que são rígidos, mas precisamos levar em conta que a escrita das tragédias e comédias era feita em ritmo determinado, ela era poética, tinha lírica, da mesma forma com que Homero escrevia. Quando vamos aos gregos, deveríamos procurar as rupturas para que se evite o engessamento literário. Essa é uma das questões em que, eu acho, os estudos clássicos podem nos ajudar.”
Apesar da complexidade dos textos antigos, as palestras surpreenderam pela clareza. O tom nada obscuro utilizado pelos palestrantes cativou graduandos e professores, criando um ambiente muito confortável ao debate. Comentando a questão, o Professor Luiz Carlos ressalta a importância de remover os entraves desnecessários dos discursos científicos: “Na academia, existe certo elitismo tranca, num discurso mais difícil, o seu fazer […]. Os palestrantes convidados não procuravam qualquer exibicionismo, mas se esforçaram em manter a linguagem acessível, assimilável, imprecisa apenas quando muito necessário”.
Everton Paulino
Larissa Galbardi
Lorena Martins
Luan Baliero